Comunicação

Por que Rachel e eu escrevemos um “Passo a passo para falar bem em público”?

Não há livro mau que não tenha algo de bom

Em uma dessas conversas surgiu a ideia de atender a uma antiga aspiração de muitas pessoas - Imagem: Divulgação
Em uma dessas conversas surgiu a ideia de atender a uma antiga aspiração de muitas pessoas - Imagem: Divulgação
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 26/04/2024, às 13h33


São três da matina. Posso enviar uma mensagem para a minha filha Rachel com a certeza de que ela responderá em segundos. Você poderia perguntar: vocês não dormem? Sim, dormimos, mas temos o “péssimo hábito” de atravessar a madrugada trabalhando. Quantos projetos nasceram dessas nossas conversas noturnas!

Gravamos um curso online que já conquistou mais de dez mil alunos. Essa ideia surgiu numa madrugada. Escrevemos seis livros em coautoria. Todos foram gestados quando as luzes dos prédios vizinhos já estavam apagadas. E assim, ao longo de todos esses anos nos divertimos trocando mensagens pela noite adentro.

Um novo livro

Em uma dessas conversas surgiu a ideia de atender a uma antiga aspiração de muitas pessoas. Desejavam aprender a falar em público com lições no estilo passo a passo. Sem pressão, de maneira bastante didática, um passo de cada vez. Decidimos que cada capítulo atenderia a uma questão específica da comunicação. Deveria ser um livro direto, sem rodeios e bastante objetivo.

No final de cada capítulo há um lembrete para recordar a essência do texto. O que está no passo um, por exemplo:

· Invista no desenvolvimento da comunicação.

· Quanto mais você crescer na hierarquia mais competente deverá ser a comunicação.

· Não permita que os menos competentes se projetem mais que você por causa da oratória.

· Não importa suas dificuldades para falar em público, saiba que poderá superar esses obstáculos.

Procuramos incluir temas que fossem úteis e inusitados ao mesmo tempo. Por exemplo, abordamos o uso de palavras que podem enfraquecer e prejudicar a qualidade da comunicação, as palavras-ônibus. Observe como ficou:

"Coisa", "troço", "negócio", "legal", "bacana" são consideradas palavras-ônibus. São termos que carregam incontáveis significados, com as mais diferentes ideias, como se fossem mesmo um ônibus levando quem se dispusesse a subir nele.

Normalmente, quando uma pessoa não consegue definir bem um pensamento com a palavra adequada, recorre a esse recurso dizendo, por exemplo: "temos de preparar as coisas para a mudança", para se referir a objetos, materiais, mantimentos, etc. Da mesma forma, quando dizem: "temos de desenrolar esse negócio", para se referir a gargalos produtivos, queda nas vendas, problemas familiares, etc.

E dessa forma fomos explicando a teoria e dando exemplos que pudessem orientar bem o leitor para se comunicar de maneira mais eficiente.

Quantos passos?

Quando nos perguntamos qual seria a quantidade de passos ideal, falamos ao mesmo tempo, como se tivéssemos ensaiado: trinta. Dividimos as tarefas, arregaçamos as mangas e nos entregamos de corpo e alma a essa empreitada. Era preciso encontrar uma editora que acreditasse no projeto. Sem pestanejar, o Maurício Sita, presidente da Editora Literare Books, aceitou o desafio.

Segundo ele, esse livro já estava com cara de “lista dos mais vendidos”. Disse que colocaria toda a sua estrutura editorial para que a obra fosse bem-sucedida. Com esse apoio, ficamos ainda mais animados. Em poucas semanas as páginas estavam finalizadas, prontinhas para a revisão. Ao mesmo tempo, elaboraram a capa e estabeleceram o prazo para lançamento: maio deste ano. Isso mesmo, no mês que vem.

Assim que os originais foram encaminhados, fizemos uma leitura criteriosa de todas as partes. Como disse Ruy Castro, ninguém escreve bem, mas sim reescreve bem. Ele tem razão. É reescrevendo que se aprimora um texto.

O dilema da página preta

Por isso, para contrapor o dilema da página branca, que é a angústia do escritor que sofre para pôr as primeiras palavras no texto, surgiu o dilema da página preta. É a insegurança de pôr o ponto final, pois na cabeça de quem escreve parece que há alguma informação que talvez pudesse ser acrescentada.

Quando o ponto final precisa ser posto por dois escritores ao mesmo tempo, as dúvidas se somam e até se multiplicam. E lá vão mais algumas resenhas noturnas. Até que não demorou tanto. Nem precisamos discutir. Foi tudo bem resolvido de comum acordo.

A emoção renovada

Uma vírgula aqui, outra consideração ali, nada muito significativo, nenhuma mudança que pudesse melhorar ou piorar o que já estava concluído. Batemos o martelo. Todo mundo feliz com o resultado.

Agora é só aguardar a chegada do “Passo a passo para falar bem em público” nas livrarias. Esse é o meu 35º livro e o 10º da Rachel. Já deveríamos estar mais que acostumados a ver uma obra publicada. Que nada, dá a impressão de que é sempre a primeira.

Ser útil

O que mais desejamos é que os leitores gostem, aproveitem e possam aprender a falar em público seguindo cada uma das lições que elaboramos com tanto cuidado. O objetivo foi o de dar em cada passo as mesmas orientações que temos dado aos milhares de alunos que treinamos nas últimas décadas. Sabendo qual seria, possivelmente, as dúvidas que surgiriam a cada momento, nós nos antecipamos e demos as orientações no próprio corpo do texto.

Somos críticos com o que escrevemos. Desta vez, concordamos que tudo foi feito de acordo com o planejado. Na verdade, até melhor que a encomenda. Vamos ver. Já estamos esfregando as mãos para receber o primeiro exemplar. Como dizia um autor gozador que conheci ainda na época de Saraiva: em breve nas boas e nas más livrarias.