Política

Lula começa a derreter e desaba na aprovação popular

O que será que levou parte da população a torcer o nariz para Lula?

Outro ponto negativo foi Lula vacilar demais para dizer que o Hamas é um grupo terrorista. - Imagem: Instagram
Outro ponto negativo foi Lula vacilar demais para dizer que o Hamas é um grupo terrorista. - Imagem: Instagram

Reinaldo Polito Publicado em 27/10/2023, às 15h30


Lula sofre expressiva queda na sua aprovação. Segundo resultados divulgados pela pesquisa Genial/Quaest na quarta-feira, dia 25, o líder petista teve uma diminuição de 6% no seu índice de aprovação. Se considerarmos que as expectativas não são muito otimistas para o país, a tendência talvez seja a de esses indicadores de popularidade piorarem ainda mais nos próximos meses.

O que será que levou parte da população a torcer o nariz para Lula? Não há um motivo isolado, mas sim a conjugação de fatores que leva as pessoas a não apoiar as iniciativas do governo. Alguns são mais evidentes. Outros, todavia, se escondem nas frestas e fica difícil identificá-los.

A insegurança

Ao lado das questões relacionadas à saúde, a segurança passou a ocupar posição de destaque entre as preocupações dos brasileiros. Segundo o Datafolha, 17% dos entrevistados apontaram a segurança como o principal problema do país. As pessoas estão com medo de sair de casa. A todo instante veem no noticiário imagens de assaltos, tiroteios e ônibus queimados. Procuram culpados e, lógico, atribuem ao Palácio do Planalto a responsabilidade pelo seu desassossego. Não há um governante que resista a esse bombardeio.

Outra pesquisa realizada pela Atlas Intel é ainda mais preocupante para Lula. Somando as respostas de péssimo, ruim e regular o resultado é alarmante, 65% incluem o desempenho do governo nesse percentual. Sendo que 47% cravaram a atuação governamental como péssima. Só esses dados já poderiam explicar boa parte da degringolada na aceitação do presidente.

Arrecadação em queda

A administração atual não tem agradado. Deixa a desejar na Economia e nos costumes. Mesmo com o aumento de impostos, a arrecadação federal despenca pelo quarto mês consecutivo e atinge preocupantes R$ 174,31 bilhões no mês de setembro. A sequência de quedas foi de 3,4% em junho, 4,2% em julho, 4,1% em agosto e 0,34% em setembro. A comparação é atualizada a partir dos números do mesmo período do ano anterior.

O resultado é alarmante, pois há necessidade de aumento de R$ 168 bilhões nas receitas para zerar o déficit em 2024. As medidas adotadas pelo governo não têm encontrado resposta positiva nos valores arrecadados. Todos sabem que os petistas não são muito chegados em cortar gastos. Na verdade, demonstram forte vocação para aumentá-los. As perspectivas não são nada animadoras.

Carga tributária elevada

Com a atividade econômica patinando, por mais impostos que sejam criados, a arrecadação será insuficiente. Ao contrário, de acordo com os princípios da curva de Laffer, depois de determinado percentual de tributação há desestímulo para produzir, e a arrecadação diminui. Ou seja, mais imposto, menos arrecadação. Há quem diga que a nossa carga tributária já atingiu essa curva descendente.

Outros motivos ajudam a explicar essa impopularidade. Tirando os mais crentes em tudo o que o governo faz, muita gente não tem visto com bons olhos suas viagens sucessivas acompanhado da esposa ao exterior. Os gastos exorbitantes com hotéis caríssimos não agradaram a população. Com tantos problemas para resolver aqui, não há justificativa para tantas decolagens.

Descriminalização do aborto

Os costumes também entraram no pacote. Os temas indigestos pautados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como, por exemplo, descriminalizar o aborto até a 12ª semana de gestação respingaram na imagem do chefe do Executivo. O veto de Lula ao Marco Temporal que havia sido aprovado pelo Congresso também passa longe das aspirações dos brasileiros. São iniciativas voltadas mais para as questões ideológicas.

Outro ponto negativo foi Lula vacilar demais para dizer que o Hamas é um grupo terrorista. Tentou escapar daqui e dali para não contrariar suas convicções. Quando percebeu que o prejuízo seria insustentável, resolveu dizer o que a maioria desejava ouvir. Mesmo assim, sempre com ressalvas. Em seus pronunciamentos afirmou que Israel não agiu bem revidando aos ataques recebidos.

Difícil reverter

São inúmeros detalhes que vão se somando e acabam por desgostar a opinião pública. Em determinado momento as pessoas já nem sabem mais porque fazem avaliação negativa do governo. É um sentimento difuso que foi sendo criado sem que houvesse muita consciência da sua presença.

Construir uma imagem positiva é difícil, dá trabalho e exige muita persistência. Reverter uma opinião desabonadora, entretanto, talvez seja ainda mais complicado. Passa a existir uma resistência emocional, uma reatância. Aquela liberdade que a pessoa deseja para sozinha, sem interferências, chegar às conclusões. Nesse processo, quanto mais argumentos são utilizados para que mude a forma de pensar, mais resistente ela se torna. Só com o tempo e depois de vários fatos positivos que possam ser observados sem pressões externas ostensivas, é que as defesas são arrefecidas.

O ideal é não deixar que esse fenômeno ocorra. Seria mais fácil prevenir que consertar. Ao que tudo indica, todavia, Lula e seus ministros ainda não se conscientizaram desse risco. Pode ser que agora, depois de tomar conhecimento dessa queda na sua popularidade, mude o rumo e passe a atender mais a vontade da população, deixando um pouco de lado as suas convicções ideológicas.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de Oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação, Gestão Corporativa e MBA em Gestão de Marketing e Comunicação na ECA-USP. Escreveu 34 livros, com mais 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/