MARACUTAIA

Empresário Giovani Borlenghi é citado no escândalo de R$ 5 milhões por semana no Porto de Santos

Um dos donos da Cesari, empresa que fatura milhões no Porto, sem nunca ter participado de licitação, refuta sua participação no esquema de propina de R$ 5 milhões semanais para presidente da Autoridade Portuária e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho

Presidente da Autoridade Portuária, Anderson Pomini e o empresário Giovanni Borlenghi se cumprimentam durante visita - Imagem: reprodução redes sociais
Presidente da Autoridade Portuária, Anderson Pomini e o empresário Giovanni Borlenghi se cumprimentam durante visita - Imagem: reprodução redes sociais

Jair Viana Publicado em 24/02/2024, às 18h52


O suposto esquema de corrupção na Autoridade Portuária de Santos, denunciado pelo senador Alexandre Giordano (MDB-SP), pode envolver cerca de R$ 5 milhões por semana.

O empresário santista Giovanni Carbome Borlenghi, um dos sócios do Grupo Cesari seria o responsável por alimentar a corrupção no Porto. Sua empresa, a Cesari, presta serviço no local, sem nunca ter participado de qualquer licitação. Ele recebeu a visita inusitada de Anderson Pomini antes de ganhar espaço no Porto.

A denúncia, feita pelo senador Alexandre Giordano, põe no epicentro do escândalo, o ministro dos Portos e Aerportos, Silvio Costa Filho e o presidente Autoridade Portuária, Anderson Pomini. O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco já recebeu pedido para convocar os dois para que eles sejam interrogados e prestem esclarecimentos.

Segundo a denúncia, Anderson Pomini teria facilitado a entrada em operação no Porto, do Grupo Cesari, que não participou de processo de licitação. O conglomerado Cesari protagoniza um subarrendamento, contrariando normas da própria APS. Pomini teria criado normas para favorecer a contratação do Grupo Cesari.

As denúncias envolvem um caso de subarrendamento de áreas para uso do Grupo Cesari. Além disso, a empresa é a única com balança nas especificações exigidas pela normas que foram implantadas por Anderson Pomini.

O senador aponta ainda que no Porto de Santos nunca houve armazenamento de granel sólido mineral e nem contratação de trabalhadores pela Cesari. A empresa ainda é acusada de conseguir entrar na área do porto para prestar serviço sem participar de licitação.

Giovanni Borlenghi surgiu em meio ao escândalo entre os muitos documentos levantados pela reportagem. Procurado, inicialmente, ele se negou a tratar do assunto. Mais tarde, enviou contato de sua assessoria de imprensa para que encaminhasse a negociação para a entrevista.

A reportagem enviou as 23 perguntas por e-mail para que Borlenghi respondesse. Encaminhou o caso à assessoria de comunicação que enviou uma nota na tentativa de esclarecer as dúvidas.

A empresa diz que tomou conheciemento, pela imprensa, do requerimento do senador Giordano para apurar as denúncias. Dissse ainda que nada do que se apura tem a ver com a postura da empresa.

O empresário Giovanni não quis responderas 23 perguntas que detalham a denúncia. Preferiu emitir uma nota que permite a réplica. Veja abaixo as perguntas enviadas e a nota do Grupo Cesari.

PERGUNTAS ENVIADAS

01. As acusações incluem o subarrendamento ilegal de áreas no Porto, a falta de cumprimento das obrigações contratuais e a movimentação de mercadorias sem documentação adequada. Como o senhor responde a essas alegações?

02. Há relatos que a Cesari é a única operadora de cais público com uma balança em uma área arrendada transitória e que não cumpre integralmente os termos do contrato. Existe uma explicação?

03. Também há denuncias de que nunca houve armazenamento de granel sólido mineral na área arrendada pela Cesari, nem contratação de trabalhadores portuários para essa área. Como explicar?

04 Diante dessas acusações e da investigação em andamento, como a Cesari pretende lidar com essa situação e restaurar a confiança das autoridades e da comunidade portuária?

05. Voltando às questões sobre a licitação e o contrato com a APS, como o senhor explica o fato de a Cesari não ter participado da licitação e ainda assim ter obtido um contrato com a APS? Isso não poderia ser interpretado como subarrendamento, uma prática proibida no contrato?

06. considerando que o subarrendamento é uma prática explicitamente proibida no contrato e pode até levar à rescisão do mesmo, como você justifica as alegações de que a Cesari pode ter subarrendado áreas no Porto?

07. Considerando a gravidade das alegações e a possível investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o contrato da Cesari com a APS, como o senhor pretende lidar com essa situação?

08. Como a Cesari pretende garantir a transparência e a conformidade em suas operações no futuro, especialmente considerando a possibilidade de uma investigação em andamento?

09. Uma das preocupações levantadas é a falta de transparência em relação aos gastos do contrato entre a Cesari e a APS. Até o momento, não houve publicização dos gastos. Como o senhor explica essa falta de transparência?

10. Quais medidas específicas a Cesari pretende tomar para garantir que os gastos do contrato sejam divulgados de forma transparente daqui para frente?

11. A Cesari está preparada para enfrentar quaisquer desafios legais ou regulatórios que possam surgir como resultado das investigações do MPF?

12. Qual é a posição oficial da Cesari em relação à denúncia de que Rodrigo Mendes, ex- superintendente de operações, era operador da propina junto à empresa?

13. A Cesari pode confirmar ou refutar as alegações de que houve repasse de propina a Rodrigo Mendes por parte da empresa?

14. Pode a Cesari esclarecer por que Rodrigo Mendes continuava a ter acesso às instalações ou registros da empresa mesmo após sua exoneração de seu cargo como superintendente de operações?

15. Quais são os procedimentos e políticas internas da Cesari para garantir a conformidade com as leis anticorrupção e prevenir práticas ilegais, como o suborno?

16. Qual era a natureza do relacionamento contínuo entre Rodrigo Mendes e a Cesari após sua saída oficial da APS?

17. Apesar das inúmeras denúncias  de extorção contra as empresas acerca do ex-superintendente, que desencadeou, inclusive na sua precoce exoneracao, como explicar os relatos de encontros frequentes entre o ex-superintendente e representantes da empresa em restaurantes de Santos, tanto durante seu mandato como após sua exoneração?

18. Qual era a natureza desses encontros e qual era o propósito deles?

19. Esses encontros foram oficialmente registrados ou relatados aos órgãos competentes dentro da empresa?

20. Qual é a justificativa da Cesari para continuar se encontrando com o ex-superintendente após sua exoneração, mesmo ciente  do motivo desta?

21. A empresa reconhece que esses encontros podem ser interpretados como impróprios ou questionáveis, dadas as circunstâncias?

22. Diante das denúncias apresentadas, há preocupação por parte da opinião pública sobre possíveis consequências legais. Como o senhor lida com essas preocupações e como vê a possibilidade de enfrentar consequências legais decorrentes dessas denúncias? teme ser preso, por exemplo?

23. As denúncias revelam uma triangulaçao entre Pomini, Rodrigo Mendes e Cesari. Qual era o papel de cada parte envolvida nessa suposta triangulação e qual era o objetivo dessas interações?

A Ceslog Cesari enviou a seguinte nota:

NOTA DE ESCLARECIMENTO

"A empresa CESARI, localizada no Polo Industrial de Cubatão/SP, vem a público para informar que se dedica, com reconhecida idoneidade, na prestação de serviços de transportes de cargas por meio de diversos modais, incluindo o aquaviário, rodoviário e ferroviário, dos mais variados tipos de produtos químicos, perigosos ou não, como também de atividades de operação portuária.

Ocorre que, por meio da própria imprensa, a empresa tomou conhecimento a respeito do Requerimento nº 53, de 2024, de lavra do Senador Giordino (MDB-SP), e posteriores matérias veiculadas na mídia digital, o qual, desde já, repudia todas as assertivas relativas à empresa.

Destaca-se que a suposta denuncia relativa à empresa não traduz a realidade dos fatos, sendo ao nosso sentir totalmente inverídica.

Assim, tão logo seja levado a efeito o procedimento normal, com a regular ciência por parte da empresa, e, consequentemente, com amplo acesso à todos os documentos que embasam a suposta denuncia, de imediato responderemos e comprovaremos tudo quanto for necessário, inclusive, as medidas cabíveis no caso em tela".