Presidente americano ameaçou aplicar uma tarifa de 25% sobre as importações de produtos colombianos
por Reinaldo Polito
Publicado em 07/02/2025, às 12h05
Depois da posse de Trump, as opiniões sobre se o Brasil deve ou não peitar os Estados Unidos se dividiram. Há quem diga que um país não deve se sujeitar a outro, independentemente das diferenças econômicas entre eles. Afinal, dizem, é preciso preservar a soberania. Outros, ao contrário, pensam diferente, pois alegam que, com cachorro grande, não se deve meter a cara.
A bravata colombiana
A Colômbia pode ser um bom exemplo. O presidente Gustavo Petro se mostrou indignado com a decisão dos americanos de deportar os colombianos que estavam em situação ilegal nos Estados Unidos. Petro proibiu que aviões militares estadunidenses levassem de volta ao seu país as pessoas deportadas.
Segundo ele: “um imigrante não é um criminoso e deve ser tratado com a mesma dignidade que um ser humano merece”. Houve até uma reação de perplexidade de alguns países diante dessa manifestação corajosa. Durou pouco, porém, a bravata. Trump logo tratou de mostrar qual seria a pena para quem não concordasse com suas ações.
O presidente americano ameaçou aplicar uma tarifa de 25% sobre as importações de produtos colombianos. E, caso o governo não mudasse de atitude, essa cobrança poderia chegar a 50%. Rapidamente, Petro voltou atrás e deixou o dito pelo não dito. A Casa Branca celebrou: “Os eventos de hoje deixam claro para o mundo que a América é novamente respeitada”.
Nada como aprender com o exemplo dos outros
Parece que serviu de exemplo para outros países que começavam a se rebelar. O Brasil mesmo chegou a divulgar um comunicado dizendo considerar inaceitável o tratamento degradante dispensado a brasileiros e brasileiras algemados nos pés e nas mãos.
Mas foi só uma rosnada para a plateia. Pouco depois, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, contemporizou: “Nós tivemos uma reação muito sóbria. Não queremos provocar o governo americano, até porque a deportação está prevista em um tratado que vigora há vários anos entre Brasil e Estados Unidos e que autoriza a deportação”.
Uma volta de 180 graus oportuna
E para deixar claro que o Brasil não estava mesmo estabelecendo confronto, completou: “Nós não queremos provocação, não queremos afrontar quem quer que seja, mas queremos que os brasileiros inocentes, que foram para lá buscar trabalho, sejam tratados com a dignidade que merecem”. Sim, a terra é redonda e o céu é azul.
Quem levanta o topete para defender a ideia de que o Brasil precisa ser altivo e não se subordinar aos arroubos americanos alega que estamos ali “pau a pau”. Em 2024, exportamos US$ 40,3 bilhões para os Estados Unidos e importamos deles US$ 40,5 bilhões. Noves fora, nada. Até aí, parece mesmo que, se houvesse algum desentendimento, os números não se alterariam: os dois perderiam.
As diferenças são enormes
Só que o buraco é mais embaixo. Há outra conta que precisa ser feita – e é aí que está a grande diferença. Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, ficando atrás apenas da China, e representando 14,95% do total. Enquanto isso, as exportações americanas para o Brasil nem fariam cócegas na economia deles. É quase um nonada.
Agora saiu uma notícia bombástica: “Embraer fechou uma venda de US$ 7 bilhões para a empresa norte-americana Flexjet. Esse negócio representa o maior pedido de jatos executivos já realizado”. Atrapalhar essa negociação seria só um exemplo do prejuízo que poderíamos ter caso insistíssemos em contrariar as determinações de Trump.
Brigar com gente muito poderosa pode não ser virtude
Enquanto estivermos na dependência em que nos encontramos hoje, não tem como “cantar de galo”. E aqui entra outra máxima da sabedoria popular: passarinho na muda não pia. Não é fácil engolir sapo e ter de aguentar desaforo, mas não há outro caminho – pelo menos por enquanto.
Os gregos definiam a virtude como a excelência no agir, o equilíbrio entre extremos. No caso do Brasil, entre desafiar um gigante e aceitar passivamente suas imposições, talvez o caminho mais virtuoso seja o da cautela estratégica – saber quando recuar para não perder espaço no tabuleiro e, quem sabe, no momento certo, avançar com inteligência.
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