Após atritos, Gleisi Hoffmann assume papel diplomático e se compromete com pautas econômicas do governo Lula
por Reinaldo Polito
Publicado em 14/03/2025, às 15h55
No desempenho de suas atividades como deputada federal e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann nunca demonstrou grande simpatia pelo "mercado", pelo Banco Central e até pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad. Batia e assoprava: “É um direito do partido e até um dever fazer esses alertas e esse debate, isso não tem nada de oposição ao ministro e nem a ninguém. É da nossa tradição.”
Haddad ficou muitas vezes no meio desse fogo cruzado e precisou se manifestar: “O meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula! E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver.”
As desavenças ficaram no passado
Agora, Gleisi assume como ministra da Secretaria de Relações Institucionais e precisa conviver bem com o mercado, o Banco Central e Haddad. Como estabelecer convivência harmoniosa depois de tantos atritos? Sem problema. O que mais um político sabe fazer é passar uma borracha em cima do que falou e do que ouviu. Por maior que tenha sido o desaforo.
Disse durante a cerimônia de posse: “Eu estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas desse governo, as pautas que você conduz e que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego, do crescimento e da renda.”
As necessidades do cargo
Ulalá! Quem te viu, quem te vê! E não poderia ser diferente. Sua posição exige esse tipo de diplomacia. Nada como as necessidades de um bom cargo para virar algumas páginas e esquecer certas desavenças.
Ao longo de cinco décadas como professor de oratória já treinei centenas de políticos. Passaram pelas nossas salas de aula os presidentes dos mais importantes partidos: MDB, PL, PODEMOS, PTB. Em muitas ocasiões, esses alunos me perguntaram por que eu não me candidatava.
A resposta direta e simples em todos esses momentos foi: sinto que tenho habilidade para treinar políticos, mas não tenho estômago para aguentar essa vida. Não consigo imaginar ter um amigo de viagens e de visitar casa com a família e, por meras conveniências políticas, um dia precisar criticá-lo.
Lula e Alckmin são bons exemplos
Vamos pegar um caso recente emblemático, o de Lula e Alckmin. Nas eleições presidenciais em 2006, Alckmin não mediu palavras para atacar o adversário: “Não existe a menor chance de aliança com o PT. Vou disputar e vencer o segundo turno, para recuperar os empregos que eles destruíram saqueando o Brasil. Jamais terão meu apoio para voltar à cena do crime.”
Ao tomar conhecimento dessas declarações, o petista, por meio da assessoria do Instituto Lula, retrucou: “Seria mais proveitoso para a população de São Paulo se o governador explicasse os desvios nas obras do metrô e na merenda escolar, a violência contra os estudantes e os números maquiados de homicídios no estado.”
Um novo José Alencar
Analisando essas palavras, será que poderíamos supor alguma possibilidade de reconciliação entre os dois desafetos? O bom senso diria que não. Só que, em política, os caminhos são distintos. Lula precisava de um outro José Alencar, e o ex-governador tinha esse perfil.
Alckmin, depois de tantas vitórias eleitorais, deixara de encantar os eleitores e precisava de novos ares. Lula poderia ser essa mudança. E Alckmin já havia demonstrado ser um vice fiel ao trabalhar com Mário Covas. Quando assumiu o governo após a morte de Covas, manteve todo o secretariado sem mudanças, mostrando que não gostava de arrumar problemas. Com esse histórico, ele foi visto como um nome seguro para dar ao eleitorado a ideia de equilíbrio e moderação.
Discurso conciliador
Avaliaram os prós e contras e, como políticos, resolveram colocar uma pedra no passado de intrigas mútuas. Em pronunciamento surpreendente, Alckmin demonstrou que os tempos eram outros: “Nenhuma divergência do passado, nenhuma divergência do presente, nem as disputas de ontem nem as eventuais discordâncias de hoje ou de amanhã, nada servirá de razão para que eu deixe de apoiar e defender com toda a minha convicção a volta de Lula à presidência do Brasil.”
Para agir assim, é preciso vocação. Não é fácil desdizer o que disse com tanta ênfase. E como encarar aqueles que ouviram suas críticas? Precisa ser do ramo. E já me convenci há muito tempo de que essa não é a minha praia.
Por isso, a política deve ser reservada para aqueles que atuam com sagacidade e sem nenhuma preocupação com o que um dia disseram ou ouviram. Já vi muito, mas sempre me surpreendo com o que surge na política a cada dia. Como disse o filósofo Felipão: “Me inclua fora dessa.”
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