Cultura

Trump derrota os democratas nas urnas e agora no Congresso

Foi curioso ver os republicanos, sentados à sua esquerda, aplaudindo de pé a cada pausa

Trump está apenas no início de seu governo, e muita água vai rolar por baixo dessa ponte - Imagem: Getty Images
Trump está apenas no início de seu governo, e muita água vai rolar por baixo dessa ponte - Imagem: Getty Images
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 07/03/2025, às 14h10


Não importa se você detesta Donald Trump ou gosta dele. Provavelmente vai concordar que ele sabe como se comunicar com o público. Todo o seu passado como bem-sucedido apresentador de televisão, magnata no ramo imobiliário e eleito pela segunda vez como presidente da nação mais poderosa do mundo deu a ele um jogo de cintura diante das plateias que poucos políticos possuem.

Vitória contundente

Por causa dessa experiência, nesta semana ele atropelou os democratas pela segunda vez. Deu uma tremenda surra nas eleições. Fez barba, cabelo e bigode. Sim, além de vencer no voto popular, conquistou também a maioria dos delegados. E, se não bastasse, agora tem maioria na Câmara, no Senado e, ainda por cima, está com maioria no Judiciário.

Boa parte da imprensa brasileira ficou atônita. Alguns jornalistas acreditaram tanto nas pesquisas que davam como certa a vitória de Kamala Harris que foram pegos de surpresa com o resultado das urnas. Passaram horas tentando explicar o que não haviam percebido’.

Não sobrou pedra sobre pedra Agora, outra sova. Na terça-feira (4), no discurso que fez na sessão conjunta da Câmara e do Senado, Trump falou por cerca de uma hora e quarenta minutos. Além de justificar suas ações nos primeiros 43 dias de governo, não perdeu a chance de criticar seu antecessor. Não sobrou pedra sobre pedra.

Foi curioso ver os republicanos, sentados à sua esquerda, aplaudindo de pé a cada pausa, com sorrisos largos, frases de efeito e assovios. Enquanto isso, os democratas, à sua direita, permaneciam carrancudos, silenciosos, exibindo placas de “falso” e “não é normal”. Mesmo com informações positivas para o país, não moviam um músculo do semblante.

Usou a ironia para cutucar os democratas Com tom irônico, Trump disparou: “Eu poderia achar a cura para a doença mais devastadora do mundo e esses democratas não me aplaudiriam”. Em outro momento, cutucou: “Eu olho para os democratas na minha frente e percebo que não há absolutamente nada que eu possa dizer para fazê-los felizes”.

Essa reação negativa foi a forma que os adversários encontraram para demonstrar seu descontentamento com as iniciativas do presidente. Depois de tudo o que fizeram para alijá-lo da política, com certeza não se conformam em vê-lo novamente na Casa Branca. E o pior é saber que, como minoria, terão muita dificuldade para barrar seus projetos.

Não há mal que não possa piorar

A notícia mais desagradável para os democratas veio após o discurso, como um balde de água fria. Segundo a CBS News/YouGov, 76% daqueles que acompanharam aprovaram suas declarações, mostrando o quanto Trump ainda domina a narrativa política. A pesquisa, feita com 1.207 adultos, tem margem de erro de 3,4%.

E, para não dizerem que o estudo poderia estar equivocado, a CNN – que de trumpista não tem nada – apontou que 69% dos entrevistados consideraram o discurso positivo. Com esse resultado, os democratas perceberam que o confronto silencioso de nada adiantou. Estão atordoados, sem saber que rumo tomar.

Furou a bolha Se quase 80% dos telespectadores concordaram com as ações de Trump e se mostraram favoráveis ao seu pronunciamento, isso significa que os democratas perderam apoio de boa parte de seus eleitores. Trump furou a bolha e conquistou adeptos no terreno inimigo. Provavelmente, nem em seus melhores sonhos ele previa um resultado tão avassalador.

Embora tenha conquistado uma grande vitória, há um detalhe nessa pesquisa que precisa ser avaliado. De maneira geral, a maioria que assiste ao pronunciamento do presidente é composta de adeptos ao seu governo. Os adversários evitam esse dissabor.

As massas são imprevisíveis

Por isso, mesmo tendo ido muito bem e obtido o aplauso dessa maioria, ele sabe que deverá ficar de olho na população. Jean Baudrillard, em seu livro “À sombra das maiorias silenciosas”, diz que as massas são imprevisíveis e podem mudar radicalmente de posição sem razão aparente.

Trump está apenas no início de seu governo, e muita água vai rolar por baixo dessa ponte. Já teve a experiência do primeiro mandato, quando tudo indicava que seria reeleito. Aí surgiu a pandemia, que mudou o cenário. Aqueles que o apoiavam largaram sua mão e deram a vitória a Biden. Por enquanto, pode comemorar, mas com um olho no peixe e outro no gato.