Augusto Melo afirma que convocação de impeachment é tentativa de golpe no time
Maria Clara Campanini Publicado em 22/11/2024, às 10h51
A disputa entre o presidente do Corinthians, Augusto Melo, e o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, trouxe à tona um dos momentos mais tensos da história do clube. A votação de um impeachment contra Melo, marcada para o próximo dia 28, tem dividido conselheiros, associados e torcedores, além de alimentar uma crise política que pode comprometer o futuro do time.
A polêmica teve início na última quinta-feira (21), quando Tuma Júnior convocou conselheiros para deliberar sobre a destituição de Melo, alegando irregularidades na gestão, supostamente ligadas ao caso “Vai de Bet”. No entanto, a falta de provas concretas e a decisão de avançar com a votação antes da conclusão do inquérito policial geraram críticas e acusações de tentativa de golpe.
O que está em jogo
O episódio gira em torno de suspeitas de irregularidades na relação do clube com a plataforma de apostas “Vai de Bet”. Entretanto, o caso ainda está sob investigação pela Polícia Civil e, até o momento, não há indícios que incriminem Augusto Melo.
A Comissão de Ética do Corinthians havia recomendado suspender qualquer julgamento até que o inquérito fosse concluído. Mesmo assim, Tuma decidiu pautar o impeachment, justificando a medida como necessária para a “tranquilidade da gestão”. A decisão provocou a indignação de Melo, que acusou o conselheiro de desrespeitar os princípios de governança e democracia.
“Não admitirei que cassem o meu mandato sem que tenha sido garantido o meu direito de defesa. Isso é um desrespeito à instituição e à democracia que nós corinthianos defendemos”, declarou Melo em suas redes sociais.
Impacto no clube e no time
O momento para a crise política não poderia ser mais inoportuno. O Corinthians vive a reta final do Campeonato Brasileiro e está em fase de planejamento para a temporada de 2024. Segundo Augusto Melo, a instabilidade causada pelo impeachment pode comprometer a execução de projetos estratégicos, além de prejudicar o desempenho esportivo.
“Estamos trabalhando em um planejamento detalhado para o próximo ano, e qualquer interrupção nesse momento pode gerar prejuízos irreparáveis ao clube”, afirmou o presidente.
A torcida, por sua vez, observa a situação com apreensão. O temor de que a crise administrativa impacte diretamente o futebol é latente, especialmente em um clube que já enfrenta desafios financeiros e busca se reestruturar para competir em alto nível.
O passado de Romeu Tuma Júnior
A figura de Romeu Tuma Júnior também está no centro das discussões. O conselheiro vitalício do Corinthians acumula um histórico polêmico. Em 2010, ele foi exonerado do cargo de Secretário Nacional de Justiça, no governo Lula, após ser citado em uma investigação da Polícia Federal, conhecida como “Operação Wei Jin”.
As investigações apontaram o envolvimento de Tuma com a máfia chinesa e seu suposto apoio ao contrabando de celulares falsificados. Gravações telefônicas e e-mails indicaram que ele teria atuado para regularizar imigrantes ilegais e liberar mercadorias apreendidas. À época, as acusações resultaram em sua saída do governo e mancharam sua reputação.
Esse histórico tem sido usado como argumento por críticos de Tuma para questionar suas motivações no processo de impeachment contra Melo. “É curioso que uma pessoa com esse passado esteja tão preocupada com ‘tranquilidade na gestão’. Parece mais uma tentativa de tomar o poder do que uma ação em prol do Corinthians”, opinou um conselheiro que preferiu não se identificar.
Democracia e governança em xeque
O caso ganhou repercussão além das fronteiras do clube, levantando debates sobre governança e democracia no futebol brasileiro. Especialistas apontam que o processo de impeachment, quando conduzido de forma apressada e sem garantias de defesa, pode ferir a legitimidade das instituições esportivas.
“Um clube de futebol, especialmente um de massa como o Corinthians, precisa ser exemplo de transparência e respeito às normas democráticas. Impeachments só devem ocorrer quando há provas concretas e ampla possibilidade de defesa”, explica Carlos Nunes, sociólogo especializado em esportes.
Enquanto isso, Melo reforça que a ausência de provas é um sinal claro de que a tentativa de impeachment seria uma manobra política. “O que está sendo feito é um golpe. E todos aqueles que apoiam essa ideia sem respeitar o direito de defesa estão contribuindo para um retrocesso na democracia do Corinthians”, afirmou em nota.
Próximos passos
A reunião marcada para o dia 28 será decisiva para o futuro de Augusto Melo e do clube. A mobilização de conselheiros e associados promete ser intensa, com ambos os lados buscando apoio.
A torcida também tem se manifestado nas redes sociais, dividida entre apoiar Melo e questionar a legitimidade do processo. Para muitos, o caso é mais um capítulo da conturbada história política do Corinthians, que, ao longo dos anos, tem visto disputas internas interferirem na gestão e nos resultados esportivos.
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