Política

Quanto mais os adversários batem em Bolsonaro, mais forte ele fica

Muitos de seus eleitores ainda alimentam a esperança de que essa inelegibilidade possa ser revertida

Mesmo inelegível, o fenômeno se repete - Imagem: Instagram/ @jairmessiasbolsonaro
Mesmo inelegível, o fenômeno se repete - Imagem: Instagram/ @jairmessiasbolsonaro

Reinaldo Polito Publicado em 08/03/2024, às 14h14


Fale a verdade – já ouvira falar em Jair Bolsonaro antes de 2016? A não ser que seja um eleitor do Rio de Janeiro, provavelmente aquele deputado era um ilustre desconhecido para você. De repente, começaram a surgir umas propagandas esquisitas: “É bom Jair se acostumando”.

E assim que, paulatinamente, entre as opções antipetistas da época esse personagem quase desconhecido conseguiu catalisar uma espécie de voto de protesto. Alguns eleitores que em um primeiro momento se juntaram ao nome do ex-capitão do exército para não dar espaço ao PT (Partido dos Trabalhadores), passaram a conhecê-lo melhor, aderiram às suas propostas e se transformaram em bolsonaristas.

Mesmo inelegível, o fenômeno se repete

Parece que o fenômeno se repete nos dias atuais. No dia 25, estavam presentes aqueles que seguem Bolsonaro e o tratam por “mito” em qualquer circunstância. Junto a esses, havia muita gente que até não gosta muito do ex-presidente, mas rejeita ainda mais o governo atual. Entre os dois, dizem preferir o menos ruim.

Não importa se naquela tarde na Avenida Paulista havia 185 mil ou um milhão de pessoas. O certo é que nenhum político brasileiro conseguiria tirar as pessoas de suas casas para participar de uma manifestação de magnitude semelhante. Lula, Tarcísio, Zema, Caiado. Faça a lista. Nenhum preencheria ao menos três quadras da avenida.

Os adversários fortalecem Bolsonaro

Se mesmo inelegível Bolsonaro consegue feito tão excepcional, não será difícil deduzir o que poderia acontecer se estivesse livre para concorrer às próximas eleições. Muitos de seus eleitores ainda alimentam a esperança de que essa inelegibilidade possa ser revertida. Na verdade, é mais torcida que cálculo da razão.

Quais os motivos que levam Bolsonaro à proeza como essa? Certamente, ele conta com a ajuda daqueles que desejam vê-lo definitivamente fora da política. A sensação de que esteja sendo perseguido injustamente faz com que mais pessoas se solidarizem com sua causa. Além disso, os desacertos de quem deseja combatê-lo se sucedem a todo instante.

Importunação de baleia

Levá-lo a depor para explicar se importunou ou não uma baleia, faz com que as pessoas vejam nessa iniciativa uma pressão despropositada. A pergunta que fazem é se um político da situação seria submetido ao mesmo constrangimento. Em vez de desgastá-lo, esse episódio o tornou ainda mais forte.

Barrar no aeroporto o jornalista português Sérgio Tavares na aparente tentativa de impedi-lo de fazer a cobertura das manifestações foi um equívoco ainda mais grave. Com esse incidente, ele que vinha só para observar o evento, virou celebridade mundial.

As multas anuladas.

A anulação das multas das empresas condenadas na Lava Jato mereceu repúdio até de parte dos próprios petistas. Abraçam a ideologia, mas não perderam totalmente a capacidade de se indignar. Se juntarmos todas essas informações, conseguiremos entender melhor o motivo de tanta gente ter ido às ruas.

Por isso, dia 25 foi um dia que não terminou. A fotografia que Bolsonaro desejava foi muito além de seus sonhos. A convocação que fez foi um risco. Se a população não comparecesse, seria a confirmação de que sua liderança já havia esgarçado. Se fosse bem-sucedida, como efetivamente foi, além de assustar seus adversários, catapultou o ânimo daqueles que já andavam meio desesperançados.

As consequências nas eleições

As consequências desse ato inigualável em nossa história serão sentidas primeiro nas eleições municipais deste ano, e mais ainda nas de 2026. Como a política apresenta surpresas estonteantes a cada dia, quem pode afirmar que o ex-presidente não estará nas cédulas de votação pleiteando voltar ao Palácio do Planalto.

Quem duvida, basta lembrar do que aconteceu com Lula. Quando praticamente todas as esperanças haviam sido esfaceladas, eis que surgiu uma reviravolta que o credenciou a concorrer e o levou pela 3ª vez à Presidência da República. Se um pôde, por que o outro não? Vamos aguardar.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de Oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação, Gestão Corporativa e MBA em Gestão de Marketing e Comunicação na ECA-USP. Escreveu 35 livros, com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/