As declarações de Bolsonaro sobre a candidatura de Marcos Pontes e o impacto nas relações políticas dentro do PL e no Senado
por Reinaldo Polito
Publicado em 24/01/2025, às 13h56
Antes de discutir o imbróglio da candidatura de Marcos Pontes à presidência do Senado, é importante reconhecer sua trajetória admirável e sua contribuição como ministro e senador. Engenheiro formado pelo ITA, ex-astronauta e excelente comunicador, conquistou respeito por seu carisma e competência.
Cursar engenharia aeronáutica no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) como ele fez, só para mentes brilhantes. Até hoje, me lembro de quando era garotão lá em Araraquara, no interior de São Paulo, e sabíamos de alguém que havia conseguido uma vaga no ITA, era referenciado como espécie de ídolo.
A pessoa certa no lugar certo
Portanto, vejo Marcos Pontes com essa aura de uma pessoa diferenciada, fora da curva. Aplaudi Bolsonaro quando o convidou para ser ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações. Era a pessoa certa no lugar certo. Não fez uma gestão de encher os olhos, mas não comprometeu.
Com o apoio de Bolsonaro, foi eleito senador até com bastante facilidade. Nada a reclamar do aliado do Capitão. Mostrou ser parceiro perfeito no Congresso, sempre votando a favor das propostas convenientes à direita. Um alívio, diante da escassez de parlamentares oposicionistas.
Será que a vaidade falou mais alto?
De repente, um raio cai sobre as estruturas políticas de Brasília. Não é que o “homem”, contrariando a vontade do Partido Liberal (PL) e do próprio Bolsonaro, resolveu se candidatar à presidência do Senado!
Não é simples interpretar o que o levou a agir assim. Pode ter sido apenas vaidade. Não seria impossível ainda afirmar que esse ímpeto foi ocasionado por forte e até ingênua convicção ideológica. Quem sabe por uma irrefreável vontade de servir ao país. Qualquer que tenha sido o estopim da sua decisão, usando um termo próprio para sua atividade: o astronauta viajou!
Você poderá questionar: mas qual o problema? Não é legítimo que alguém tenha aspirações e queira desempenhar funções para as quais se sente preparado? Não goza ele do respeito e da consideração dos seus pares? Sim, mas na política não se deve levar em conta apenas os anseios pessoais, é preciso “auscultar” o grupo a que pertence para verificar se há respaldo às suas pretensões.
Bolsonaro esbravejou
Bolsonaro foi o primeiro a botar a boca no trombone e tornar público o seu desagrado à decisão do senador: "Marcos Pontes, que está disputando a presidência, boa sorte a você. Mas eu lamento você estar nessa situação, porque você sabe que não tem como ganhar. O voto é secreto e se nós embarcarmos na sua candidatura, que eu acho muito melhor que outras aí, nós vamos ficar sem comissões”.
Como político experiente, Bolsonaro aprendeu ao longo de décadas que na política é preciso tomar cuidado para que os adversários do momento não se transformem em inimigos do futuro. Por isso, mesmo na crítica, deixou uma porta aberta para evitar confronto e garantir reconciliações quando a poeira baixar. Ao dizer que a candidatura dele era “melhor que outras aí”, mostrou seu apreço.
Na política vale o consenso
A questão toda está na realidade e na prática política. Qualquer analista principiante sabe que as chances de Pontes ganhar são zero. A consequência dessa derrota anunciada é que ao não apoiar David Alcolumbre, por quem Bolsonaro até não morre de amores, o partido perde a oportunidade de conquistar comissões importantes no Senado.
Pontes reagiu às palavras de Bolsonaro, mantendo sua posição: “A arrogância pode fechar portas, mas a humildade sempre abrirá as janelas da sabedoria para novos horizontes. Pense, viva e aprenda! Grande abraço espacial”.
O povo gosta de fidelidade
Pois é, subiram no ringue, e o risco de que o senador perca o embate é considerável. Vale a pena lembrar que todos aqueles que se voltaram contra Bolsonaro não sobreviveram politicamente. A lista é infindável. Só para citar alguns dos mais conhecidos: Wilson Witzel, Joice Hasselmann, João Doria, Alexandre Frota. Sem contar Sergio Moro, que aos 45 do segundo tempo teve de pedir a benção para não sair derrotado no Paraná.
O senador ainda pode reverter a situação, mas precisará de um ato raro na política: humildade. Sua inteligência é inegável, mas persistir nesse caminho pode transformá-lo em mais um exemplo de como a vaidade é perigosa – principalmente na política onde os holofotes, com frequência, acabam por cegar o equilíbrio e o bom senso.
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