Cultura

O PT precisa com urgência de um Nikolas Ferreira para chamar de seu

Um feito extraordinário que obrigou o governo a puxar o freio de mão e assinar medida provisória que proíbe impostos sobre o Pix

Guilherme Boulos ameaçou processar Nikolas por divulgar fake news, embora não tenha esclarecido quais teriam sido as mentiras do contendor - Imagem: Instagram/ @nikolasferreiradm
Guilherme Boulos ameaçou processar Nikolas por divulgar fake news, embora não tenha esclarecido quais teriam sido as mentiras do contendor - Imagem: Instagram/ @nikolasferreiradm
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 17/01/2025, às 12h55


Mais de 300 milhões de visualizações! Não, você não se enganou na leitura – o vídeo postado nesta quarta-feira, 14, pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) bateu a impensável cifra de 300 milhões de visualizações. Nenhuma notícia política atingiu cifras tão estratosféricas. Um feito extraordinário que obrigou o governo a puxar o freio de mão e assinar medida provisória que proíbe impostos sobre o Pix. 

Na verdade, o chefe do Executivo não estava isentando nada, já que o Pix nunca foi tributado. O objetivo foi o de tentar diminuir uma pressão jamais vista em prazo semelhante. Praticamente a população toda estava contrariada com a ideia de ter suas movimentações financeiras fiscalizadas. Essa medida foi reflexo do sucesso conquistado pelo vídeo gravado pelo deputado. 

Não mentiu no vídeo

Prevendo que seria atacado por todos os lados, como efetivamente está, Nikolas teve o cuidado de esclarecer logo no início da gravação que o Pix não será taxado. Disse que a intenção do Fisco seria a de aumentar a fiscalização do Pix, e cobrar imposto de movimentações que somadas ultrapassassem R$ 5 mil. Assim que o vídeo foi postado, se alastrou como rastilho de pólvora – dominando as conversas e tomando as redes sociais –, não se falava em outro assunto em todo o país.

Com a mídia amplificando a existência da gravação, a audiência disparou, e o estrago na credibilidade do governo se tornou inevitável. Para tentar contrapor as declarações do deputado mineiro e diminuir o prejuízo que já era irreversível, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) gravou um vídeo para refutar. 

Não resolveu e pode ter piorado 

Nem pagou placê – ou seja, ficou bem longe de incomodar o oponente. As visualizações não teriam atingido 0,5% dos números conquistados pelo adversário. Dizem até que serviu para colocar ainda mais combustível na fogueira. Na tentativa de desqualificar o deputado do PL, disse: “Depois de uma avalanche criminosa de fake news, o governo retira a mentira. Eles inventaram essa história de que iam taxar o Pix”. Esse contra-ataque não teve alcance e não colou.

Além de Farias, outros resolveram participar da trincheira governista. Entrou na guerra de narrativas, por exemplo, o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP). Ameaçou processar Nikolas por divulgar fake news, embora não tenha esclarecido quais teriam sido as mentiras do contendor. Além de também afirmar que o Pix não seria taxado, contestando o que não fora dito, desafiou o deputado mineiro para um debate. Nikolas é bom de briga, mas não teria nenhuma vantagem nessa disputa, apenas daria palanque para o psolista. 

O partido envelheceu 

É interessante observar que Lindbergh Farias está com 55 anos. Um dos mais jovens do Partido dos Trabalhadores. Talvez a lembrança da sua imagem de ter sido líder estudantil tenha pesado para rebater o jovem Nikolas de apenas 28 anos de idade. Aos 55 anos, ser considerado “novo” dentro do partido é um reflexo claro do envelhecimento da legenda. Esse é um problema que o PT criou para si mesmo e que terá dificuldade de solucionar.

O partido encaneceu e, embora ainda atraia parte dos votos dos mais jovens, carece de lideranças capazes de dialogar com a lógica ágil e direta das redes sociais. Por isso, talvez, levam essas surras da direita. É como se esta fosse digital e aquela analógica. E quando tentam usar as mídias sociais para combater seus opositores, deixam claro que são meros imigrantes nessa praia. 

Passos de tartaruga 

O problema é que os caciques do partido não querem largar o osso, não dão oportunidade para que novos integrantes ocupem posição de destaque. Em momentos como esse, enquanto uns correm, outros andam a passos de tartaruga.

Tudo indica que nas próximas eleições os resultados serão ainda mais significativos. Quase todos os especialistas dão como certa a vitória acachapante dos conservadores, mais ou menos o que se observou nas disputas municipais de 2024. Dá a impressão de que dormiram em berço esplêndido e se acomodaram. Não perceberam que uma nova realidade se instalava. 

Não houve mea culpa  

Nunca reconheceram os erros cometidos, ao contrário, tentaram colocar os malfeitos para baixo do tapete, como se ali pudessem permanecer pela eternidade. E, em alguns casos, insistiram nos mesmos equívocos. Bastaram alguns pequenos tropeções para que a verdade fosse descortinada.

Os métodos estão ultrapassados. Tentam governar do jeito que sempre governaram há décadas. O mundo mudou, as pessoas são diferentes, os desafios exigem outras estratégias para serem combatidos. O que o PT e seus partidos satélites precisam com urgência é de um Nikolas Ferreira para chamar de seu. Não será fácil.

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