Cultura

PT enfrenta fogo amigo e risco de guerra fratricida

Com Lula como árbitro, Edinho e Falcão lutam por apoio, mas o presidente deve agir com cautela para evitar mais conflitos

Imagem: Instagram/ @lulaoficial
Imagem: Instagram/ @lulaoficial
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 11/04/2025, às 13h23


O PT (Partido dos Trabalhadores) está às turras. Aquela aura de harmonia e boa convivência entre os integrantes da sigla parece ter perdido o brilho. As pessoas brigam por dinheiro, poder, sexo e ideologia. Dos ingredientes desse pacote, só não dá para garantir a presença do sexo; de resto, tudo é possível.

Dois pesos pesados entraram de peito aberto na disputa pela presidência do partido: Edinho Silva e Rui Falcão. Ambos buscam o apoio de Lula para vencer a disputa. O presidente deve ter, com certeza, o seu candidato preferido, mas precisa pisar em ovos para não arrumar mais encrenca do que já tem.

Há muitos inimigos a serem vencidos

Já chegam as pesquisas com resultados desfavoráveis para se preocupar. Daqui para frente, o governo deve concentrar seus esforços para viabilizar a reeleição ou, no mínimo, a indicação de um poste em condições de enfrentar os conservadores. Não será tarefa fácil.

Para continuar habitando o Palácio do Planalto, a esquerda terá de vencer antes alguns adversários que ela mesma criou: a inflação dos alimentos, o preço estratosférico dos combustíveis, as elevadas taxas de juros, a crise da segurança e, principalmente, a desconfiança da população.

É hora de combater as políticas equivocadas

Essa prática de colocar a culpa nos governos anteriores e no presidente do Banco Central já está desgastada. Fazer promessas, só promessas, de dias melhores também já cansou. Pôr a culpa nos imbróglios internacionais, principalmente mirar como grande alvo os Estados Unidos, não leva a lugar nenhum.

Esta semana, já teve de demitir, ou aceitar a demissão, tanto faz, de um ministro que há muito estava corroendo a imagem do governo: o responsável pela pasta das Comunicações, Juscelino Filho. O deputado licenciado do União Brasil já havia aprontado poucas e boas.

Edinho e Falcão com estilos distintos

Era estranha sua permanência no ministério, ainda que fosse para agradar um partido aliado. Sua presença à frente da pasta, com tantas denúncias de desmandos ao longo desses dois anos e tanto, contribuiu para fragilizar a popularidade do chefe do Executivo.

Por isso, Lula necessita de um presidente de partido que traga um pouco mais de tranquilidade e paz ao governo, ainda que seja briguento. Rui Falcão é um político mais beligerante. Edinho Silva tem estilo moderado. Os dois gozam da admiração do presidente, mas só um poderá ganhar essa batalha.

Falcão é “bravo”. Em sua cartilha, estão pautas ligadas ao PT raiz. Ele prega ações populares e incentiva a militância a ser mais combativa. Seria o retorno do velho partido, que cresceu justamente a partir desse enfrentamento. Resta saber se esse comportamento mais aguerrido é adequado para o momento.

Nada de mi-mi-mi

Independentemente de quem seja o vencedor ou o derrotado, o perdedor terá de se comportar como um bom soldado do partido para contribuir com os objetivos da agremiação. Não poderá sair por aí fazendo beicinho ou dando entrevistas para deixar claro seu descontentamento. Vai ter de engolir em seco — e vida que segue.

Se puxarmos pela memória, vamos nos lembrar do sufoco enfrentado por Dilma Rousseff diante das manifestações contra o seu governo em 2015. Era o prenúncio da sua queda. Edinho Silva, então ministro da Comunicação Social, foi o único que soube agir. Sem bater de frente com os manifestantes, fez uma defesa inteligente e equilibrada.

A estratégia prudente de Edinho

Em outra oportunidade, consciente de que os discursos só atrapalhariam, para não irritar ainda mais os manifestantes, Edinho agiu com prudência e divulgou uma nota dizendo: "As manifestações deste domingo foram vistas dentro da normalidade democrática." Não houve reações às suas palavras, e o assunto morreu por aí.

Essas reminiscências mostram que, na situação enfraquecida em que Lula se encontra, ele precisará contar com alguém mais prudente e cordato. Esta não é hora de jogar lenha na fogueira. Dá para imaginar como anda a cabeça do presidente diante de uma decisão importante como essa.

A solução não está só no presidente do partido

Sendo Edinho, Falcão ou outro que se apresente para concorrer, a verdade é que Lula terá de resolver as outras questões que estão minando sua popularidade. Precisa parar de fazer discurso, arregaçar as mangas e combater com energia as gastanças, a inflação e as questões de segurança que atormentam os brasileiros.

Resta saber se suas armas estarão municiadas com duas balas de prata para eliminar as adversidades: competência e energia. Pelo que tem demonstrado, não poderá contar com nenhuma das duas. Demonstra cansaço e falta de vitalidade para enfrentar essas disputas. E, com os políticos que o cercam, não haverá competência.

Acho que Falcão e Edinho deveriam pensar duas vezes antes de enfrentar esse desafio. Tem tudo para ser batalha perdida. Sidônio Pereira que o diga.