Cultura

Por que alguns livros fazem sucesso e outros não?

Em todo caso, vou dizer o que acabo revelando àqueles que perguntam

Todos os livros que escrevi estão ligados à comunicação - Imagem: Freepik/ Divulgação
Todos os livros que escrevi estão ligados à comunicação - Imagem: Freepik/ Divulgação
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 10/01/2025, às 15h14


Esta talvez seja uma das perguntas que mais me fazem: “Como escrever um livro que possa fazer sucesso? Minha resposta sincera é: “Não sei”. Em seguida, invariavelmente, vem a indignação: “Mas como você não sabe, se os seus livros já venderam mais de 1,5 milhão de exemplares, e vários deles entraram para as listas dos mais vendidos?”

Sim é verdade, mas também é certo que não existe uma receita mágica para que uma obra seja concebida com a certeza de que irá agradar aos leitores. Prova disso é que alguns dos meus livros foram bem-sucedidos, enquanto outros nem tanto.

Oratória para advogados

Em todo caso, vou dizer o que acabo revelando àqueles que perguntam. E para isso, vou usar o exemplo de um de meus livros “Oratória para advogados”. Esse é um livro que caiu no gosto dos leitores e, há 16 anos, não para de vender.

Essa obra chegou à terceira edição, com mais de 100 mil exemplares vendidos, e possui uma bonita história para contar. Talvez seja um bom exemplo para explicar a trajetória de um livro que deu certo. Desde que foi lançado, o caminho foi muito bem trilhado.

Lançamento e referência

Fiz o seu lançamento “com pompa e circunstância” em agosto de 2008, no Dia do Advogado, em palestra que proferi na OAB de São Paulo. Foi um evento inesquecível. Todas as dependências da instituição estavam lotadas. Aqui está um ponto positivo. Lançar um livro durante uma palestra.

Uma frase proferida pelo então presidente da OAB SP, Luiz Flávio Borges D’Urso, ao fazer a minha apresentação e falar do livro, me encheu de orgulho. É daquelas referências que merecem ser emolduradas: “Aqui está, verdadeiramente, a Bíblia da Oratória para advogados”. Um aval inestimável, conquistado por meio de um depoimento de peso. Segundo ponto positivo. Ser bem-referenciado.

Agora é que vêm os aspectos mais importantes. Depois de 37 livros publicados, consigo ter ao menos uma pálida ideia do que leva de fato um livro a fazer sucesso. Vou destacar três motivos que considero imprescindíveis: o conteúdo que vai ao encontro das necessidades dos leitores, a adequação da linguagem ao público a que se destina e a credibilidade do autor no tema abordado.

Credibilidade do autor

Começando pelo último requisito, a credibilidade do autor. Eu me dedico ao ensino da Arte de Falar em Público há 50 anos. Passaram pelas nossas salas de aula dezenas de milhares de alunos e jamais me desviei dessa atividade. Essa é uma armadilha difícil de ser vencida: não enveredar por searas sobre as quais o profissional não tem autoridade.

Por isso, todos os livros que escrevi estão ligados à comunicação. Até coordeno algumas séries de livros, mas os meus não fogem da minha área de atuação. Foi o caminho que procurei percorrer para, na medida das minhas limitações e forças, conquistar credibilidade nas obras que publico.

Necessidades dos leitores

O segundo requisito, ir ao encontro das necessidades dos leitores. Uma das competências mais importantes para o desempenho dos operadores do direito é a habilidade de se expressar bem. As pessoas esperam que o advogado tenha boa oratória. Se ele não demonstra domínio no uso da palavra, podem até duvidar do seu preparo profissional.

Uma linguagem adequada

O terceiro requisito, a adequação da linguagem ao público a que se destina. O advogado possui uma linguagem própria, específica para a sua atividade, mas cada vez mais o mundo jurídico discute a pertinência do uso exagerado do juridiquês.

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e um dos fortes combatentes da comunicação rebuscada do advogado, disse de forma bem-humorada:

“Nós já temos problemas graves no Direito, como uma terminologia por vezes esquisita. Somos capazes de dizer coisas como: ‘No aforamento, havendo pluralidade enfiteutas, elege-se um cabecel’. É feio demais. Nós já temos ‘embargos infringentes’, ‘mútuo feneratício’. Perdoem-me, mas parece uma posição de Kama Sutra – ‘mútuo feneratício’!

Quem lê o livro percebe já nas primeiras linhas que ele foi concebido para o advogado, com linguagem própria para a área do Direito, mas nada além dos limites que possam dificultar desnecessariamente o seu entendimento.

Os frutos de um trabalho bem-feito

E não poderia encerrar sem contar o resultado. Para dar ideia das conquistas desse livro, basta dizer que ele figurou no topo de importantes listas dos mais vendidos do país. Durante sucessivos meses, conquistou o primeiro lugar em vendas na área do Direito na Saraiva, que na época era a mais importante rede de livrarias na venda de livros jurídicos do país.

Continuo, entretanto, afirmando com sinceridade: não sei se todos os livros que seguirem esse caminho também poderão garantir resultados excepcionais. Essas são apenas reflexões baseadas na minha experiência. Ainda assim, acredito que sejam um caminho válido a seguir.

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