Cultura

As 95 teses de Martinho Lutero e a Reforma Protestante

Lutero inspirou uma revolução de pensamento que ressoaria por séculos

Lutero foi pioneiro em traduzir a Bíblia para o alemão, permitindo que pessoas comuns, que não compreendiam o latim, pudessem ler as escrituras - Imagem: Freepik

Reinaldo Polito Publicado em 01/11/2024, às 13h18

31 de outubro é uma data emblemática na história religiosa. Foi nesse dia, em 1517, que Martinho Lutero, monge e professor de Teologia, ousou desafiar a poderosa Igreja Católica ao publicar suas famosas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha. Este ato deu início à Reforma Protestante, que transformaria profundamente a história do Ocidente.

O cenário de uma Europa em transformação

No início do século XVI, a Igreja Católica era a instituição mais influente da Europa, exercendo domínio sobre a vida espiritual e secular das pessoas. O poder papal não era apenas religioso; ele permeava a política, a economia e a sociedade.

A prática da venda de indulgências, em especial, causava grande desconforto. Elas eram "perdões" que poderiam ser comprados para reduzir o tempo que a alma de um pecador passaria no purgatório, e o dinheiro financiava construções, como a Basílica de São Pedro, em Roma. Lutero, no entanto, via nessa prática uma corrupção da fé cristã.

As 95 teses provocaram debates

Ao divulgar as 95 teses, Lutero propunha um debate teológico sobre questões que, segundo ele, distorciam o verdadeiro espírito do Evangelho. Afirmou em uma das teses: “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.” Para ele, a fé e a graça divina eram os únicos caminhos à salvação, não algo que pudesse ser comprado ou vendido.

A ousadia de Lutero não passou despercebida. Em 1521, ele foi chamado a comparecer diante da Dieta de Worms, uma assembleia de autoridades religiosas e políticas, para que retratasse suas ideias. Diante de uma multidão atenta e em tom firme, Lutero afirmou: “Aqui estou; não posso fazer de outra maneira. Que Deus me ajude. Amém.”

Essa declaração, poderosa e decisiva, selou seu rompimento com a Igreja Católica. Lutero foi excomungado, mas seu movimento já havia ganhado força o suficiente para desafiar a ordem estabelecida.

A Reforma se espalha e gera novas denominações

A Reforma Protestante, iniciada por Lutero, foi além de suas teses. Inspirou outros reformadores, entre eles João Calvino, na Suíça, e Henrique VIII, na Inglaterra, cada um com suas próprias interpretações e reivindicações. Surgiram novas denominações cristãs, como o calvinismo, o anglicanismo e o anabatismo, dando início a uma diversidade religiosa no cristianismo ocidental.

Lutero foi pioneiro em traduzir a Bíblia para o alemão, permitindo que pessoas comuns, que não compreendiam o latim, pudessem ler as escrituras. Essa tradução não apenas promoveu a alfabetização, mas também incentivou o pensamento crítico e a autonomia espiritual. Com o tempo, essas ideias fomentaram a liberdade de expressão e o desenvolvimento intelectual que culminariam no Iluminismo.

O Pregador ideal, segundo Lutero

Lutero não era apenas um reformador; ele tinha uma visão clara sobre as qualidades daquele que prega. Na obra que Rachel Polito e eu lançamos recentemente, “Aprenda a falar em público com os melhores pregadores da história”, nos valemos dos ensinamentos de Lutero. Para ele, o pregador ideal sabia ensinar, possuía boa voz, boa memória e era, acima de tudo, empático.

Em suas próprias palavras: “Ao pessoal simples é preciso dizer branco é branco e preto é preto, de modo bem singelo, com palavras simples e claras – e mesmo assim, quase que não entendem.” Lutero entendia a importância de uma linguagem acessível para alcançar os corações dos fiéis e aproximá-los dos ensinamentos cristãos.

A Guerra dos Trinta Anos e o legado da Reforma

A Reforma Protestante também gerou conflitos que abalaram a Europa. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi uma das mais sangrentas e teve origem em tensões religiosas entre católicos e protestantes.

Esse conflito devastador teve seu fim com o tratado de Vestfália, que estabeleceu o princípio da liberdade religiosa nos estados germânicos e enfraqueceu a autoridade da Igreja Católica no cenário político.

Hoje, a Reforma Protestante é lembrada como um marco de coragem, liberdade e mudança. No Brasil, essa data é celebrada pelos evangélicos como um tributo à herança espiritual de Lutero e ao legado de suas ideias.

A força de uma causa justa

Martinho Lutero não apenas abriu as portas para uma nova visão de fé, mas também inspirou uma revolução de pensamento que ressoaria por séculos. A Reforma Protestante não foi um evento isolado, mas o início de uma jornada de transformação religiosa, cultural e intelectual que moldou o mundo moderno.

O legado de Lutero exemplifica a força da palavra e a coragem de desafiar estruturas de poder em nome de uma verdade inegociável.

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