Um dos maiores desafios da minha carreira veio da TV Globo
Reinaldo Polito Publicado em 26/07/2024, às 12h12
Um dos maiores desafios da minha carreira veio da TV Globo. Aceitar a proposta da emissora significou colocar em jogo a reputação que construí durante décadas de estudo, trabalho e muita dedicação. Era uma tarefa que não poderia ter falha, pois seria vista por dezenas de milhões de pessoas.
Talvez não exista nenhum tipo de curso ou palestra que eu não tenha enfrentado. Falei na hora de uma feijoada, quando ninguém queria saber de palestra. Precisei conquistar a atenção de jovens que estavam interessados em acompanhar importante jogo de futebol. Aquela não era hora para fazer discurso.
A experiência ajuda
São aquelas situações em que o palestrante precisa contar piadas, fazer imitações, brincar com a plateia. Enfim, tudo o que estiver ao seu alcance para conquistar o interesse dos ouvintes. Ou seja, essa estrada de 48 anos, com mais de 100 mil alunos, me permite, em poucos minutos de conversa, fazer um diagnóstico preciso do aprendizado do aluno.
Os exemplos são incontáveis. Além dessas palestras em ambientes adversos, preparei alunos com deficiências e muita dificuldade de aprendizado. Se eles me procuraram para melhorar a comunicação, a responsabilidade de ensiná-los é minha. Precisei em cada caso, encontrar meios para que o resultado fosse sempre positivo.
Casos de tirar o sono
Alguns casos tiraram meu sono, exigindo horas de planejamento para atender necessidades específicas. Só para dar um exemplo. Um aluno com menos de 10% de visão precisou se preparar para ministrar palestras. Apenas o fato de aprender a girar o tronco de um lado para o outro, como se estivesse olhando para o público, fez toda a diferença. Após concluir esses trabalhos, sentia a satisfação do dever cumprido. A pessoa estava pronta para falar com segurança e desembaraço diante das plateias.
Olha quem fala
O caso da Globo foi especial. O palestrante e consultor de carreiras Max Gehringer me convidou para participar de um quadro no programa Fantástico. A ideia era ajudar três pessoas com problemas de comunicação e mostrar o progresso semanalmente no “Olha quem fala”.
Topei. Seria uma boa oportunidade para mostrar o meu trabalho ao longo de quatro semanas para dezenas de milhões de telespectadores. As aulas foram ministradas na minha escola.
Três participantes
Foram selecionados dois rapazes e uma moça. Luzia chorou descontroladamente ao se apresentar. Wilson, budista, gaguejava no microfone. João suava de nervosismo.
Para complicar ainda mais, os exercícios eram filmados diante de toda a equipe da emissora, o que aumentava a inibição. A presença da apresentadora Poliana Abrita, mesmo com toda sua simpatia, também intimidava os participantes.
A cada episódio um desafio
Eles enfrentaram desafios como atuar como camelôs no Centro Velho de São Paulo, apresentar peças de teatro e argumentar a respeito das características positivas de produtos inusitados no programa do Luciano Huck. Ali, diante de 400 pessoas, falaram sobre as qualidades de um toco de lápis sem ponta e dos benefícios do bagaço da cana.
Lembro-me bem do comentário do Huck. Ele disse que o haviam prevenido sobre a dificuldade daqueles três em se apresentar em público, mas que ficara impressionado com a desenvoltura de todos. Conquistaram a plateia e foram longamente aplaudidos.
Correções e sugestões
Max Gehringer e eu comentávamos o desempenho de cada um e sugeríamos melhorias. E dá-lhe treinamento. O progresso era visível e emocionante. A cada dia se mostravam diferentes, soltos, comunicativos.
No último episódio, cada um fez a abertura de um grande espetáculo, diante de milhares de pessoas. Wilson apresentou Zezé Di Camargo & Luciano, Luzia apresentou Wesley Safadão, e João apresentou Victor & Leo. Poliana, nos bastidores, não se cansava de mostrar o braço para dizer que estava arrepiada com o desempenho deles.
Foram momentos emocionantes. Além do aprendizado dos três, muitas pessoas se sentiram encorajadas a procurar ajuda para superar suas dificuldades em falar em público.
Os produtores do programa nos contaram que a aceitação do quadro foi excepcional. Alguns telespectadores disseram que choraram de emoção ao ver os três abrindo os shows daqueles artistas. Max, Poliana e eu jamais nos esqueceremos desses momentos marcantes.
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