Esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro desponta como a principal figura de oposição a Lula
Reinaldo Polito Publicado em 13/12/2024, às 12h47
Michelle Bolsonaro surpreende o Brasil nas pesquisas
As eleições de 2026 ainda estão distantes, mas o jogo eleitoral já começou a surpreender. Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro, está ganhando protagonismo de forma inesperada, despontando como uma força que desafia as projeções e instiga debates
Um levantamento recente da Genial/Quest trouxe um dado intrigante: com Jair Bolsonaro inelegível, sua esposa, Michelle Bolsonaro, desponta como a principal figura de oposição a Lula. Com 21% das intenções de voto, ela supera nomes como Pablo Marçal, com 18%, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que aparece com 17%.
A ascensão de Michelle
Essa ligação entre Michelle e o eleitorado bolsonarista surpreendeu até mesmo os críticos mais atentos, que acreditavam que a inelegibilidade de Bolsonaro enfraqueceria o movimento. Seu eleitorado, entretanto, encontrou na ex-primeira-dama uma maneira de manter o movimento vivo. Michelle, discreta durante boa parte do governo do marido, agora se posiciona como uma alternativa que herda não só o capital político de Bolsonaro, mas também a confiança de seus apoiadores.
Na verdade, Michelle tem provocado surpresas desde o primeiro momento. Quando Bolsonaro tomou posse como presidente, Michelle surpreendeu ao fazer um discurso em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), emocionando a comunidade surda do Brasil. Esse gesto, que simbolizou inclusão e empatia, encantou brasileiros de todas as posições políticas e demonstrou sua habilidade de se conectar com o público. Foi uma participação cativante que ficou para a história.
Um governador consistente
Por outro lado, enquanto Michelle consolida sua liderança por meio de conexão com o eleitorado conservador, Tarcísio de Freitas destaca-se por uma gestão focada em resultados. Durante seu governo, implementou reformas estruturais e projetos de infraestrutura que aumentaram sua aprovação no maior colégio eleitoral do país. Sua capacidade de gestão e o foco em resultados concretos o destacam como uma figura técnica com potencial para conquistar apoio além do público bolsonarista.
Já Pablo Marçal, com sua retórica voltada para o empreendedorismo e as redes sociais, busca atrair um público jovem e desconectado dos nomes tradicionais.
O peso das pesquisas e suas armadilhas
Apesar do interesse despertado por esses números, é preciso cautela. As pesquisas não conseguem captar nuances importantes, como o impacto de alianças futuras, a força das campanhas regionais e a reação do eleitorado
diante de novos escândalos ou crises políticas, fatores que frequentemente mudam o curso das eleições no Brasil.
Essa volatilidade do cenário político brasileiro não permite que pesquisas tão antecipadas possam ser consideradas. Seria como prever o clima de um dia específico com meses de antecedência. Muitas peças podem se movimentar até 2026. Um retorno de Bolsonaro à disputa mudaria tudo, mas, mesmo que ele não concorra, sua influência parece estar longe de se dissipar.
O passado condena
Essa força das pesquisas, todavia, levanta outra questão: até que ponto podemos confiar nesses levantamentos? O histórico recente não é favorável. Muitos institutos erraram previsões nas últimas eleições, gerando desconfiança. Há quem aponte falhas metodológicas; outros acusam viés ideológico. O debate sobre a confiabilidade das pesquisas segue relevante.
Quando estudante na faculdade de Ciências Econômicas, lembro-me de um professor de estatística que dizia: "Cuidado com os números; eles podem ser mais traiçoeiros do que parecem." Essa advertência nunca perdeu a relevância. Na política, os números não apenas informam, mas moldam narrativas. A forma como são apresentados – em percentuais ou valores absolutos, com recortes específicos ou generalizações – pode mudar completamente a percepção pública.
Por exemplo, se um governo deseja minimizar dados ruins, pode compará-los a um período ainda mais desastroso para mostrar "melhora". Do mesmo modo, números pequenos em termos percentuais podem esconder tragédias quando traduzidos para números absolutos. É o caso da criminalidade: dizer que houve um aumento de 0,01% soa inofensivo, até que se descubra que esse percentual equivale a centenas de vidas perdidas.
Nasce uma estrela
Michelle Bolsonaro, por sua vez, surge como um fenômeno que vai além dos números. Sua liderança nas pesquisas não é apenas reflexo da transferência de votos de Jair Bolsonaro, mas também da conexão que estabelece com um eleitorado conservador em busca de representatividade e continuidade.
Além de herdar o capital político do ex-presidente, Michelle tem se aproximado do eleitorado conservador por meio de discursos alinhados a valores familiares e religiosos, pilares importantes para esse grupo. Sua atuação empenhada como Presidente Nacional do Partido Liberal Mulher também ajuda a explicar sua projeção em todo o país. Com sua ascensão, Michelle Bolsonaro não apenas mantém vivo o legado político de seu marido, mas também redefine o papel de lideranças femininas no cenário conservador brasileiro, mostrando que o bolsonarismo está mais vivo do que nunca.
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