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O poder irresistível do elogio sincero

Tenha em mente ainda que, quase sempre, quem pede crítica, no fundo está esperando um elogio

O elogio para ser convincente precisa estar apoiado em fatos que possam ser confirmados como verdadeiros - Imagem: Freepik

Reinaldo Polito Publicado em 03/11/2023, às 11h32

O historiador romano Tácito afirmou que “Os aduladores são a pior espécie de inimigo”. Sábias palavras, pois quem bajula não deixa de ser um traidor. São pessoas que para obter algum tipo de vantagem se tornam bajuladoras. Fingem sentir o que na verdade não sentem. Fazem elogios mentirosos apenas com o objetivo de conquistar benefícios. A frase “Deus nos livre dos bajuladores”, atribuída a Machado de Assis, cai como uma luva nesse contexto.

Embora seres desprezíveis usem o elogio como meio para atingir os fins que desejam, temos de considerar que nem todo aquele que elogia está bajulando. O elogio sincero, amparado na verdade, nada tem de bajulação.

Não é simples, entretanto, separar o que é sincero do que é falso. Somente depois de sofrer nas mãos desses “encantadores de serpentes” é que alguns percebem que foram ludibriados por eles. Conscientizam-se de que os aproveitadores haviam usado palavras envolventes e gentis apenas para conseguir o que desejavam. Após obter o que aspiravam possuir, e não precisando mais dos favores que motivaram seu comportamento falso, acabam por mostrar a verdadeira face.

As vítimas enganadas pelos bajuladores são, na verdade, prisioneiras da própria vaidade, pois fecham os olhos para a realidade e só têm ouvidos para o que lhes afaga o ego.

Depois de certa idade, as pessoas passam a desconfiar da autenticidade dos elogios que recebem. Ao analisar as características dos idosos na “Arte retórica”, Aristóteles diz que “os mais velhos são suspeitosos, pois são desconfiados e foi a experiência que lhes inspirou essa desconfiança”.

Por isso, com o passar do tempo, depois de terem sido vítimas dos bajuladores ou de terem presenciado aqueles que foram enganados por eles, de maneira geral, tendem a não confiar nos elogios que recebem. Acabam por criar uma espécie de couraça para se proteger de quem deles se aproximam com excesso de gentilezas e de palavras afáveis.

O elogio para ser convincente precisa estar apoiado em fatos que possam ser confirmados como verdadeiros. Quando revestidos dessa premissa se transformam em poderoso meio para proporcionar o crescimento e a confiança das pessoas.

Nas últimas cinco décadas testamos todas as formas disponíveis para desenvolver a comunicação dos nossos alunos. Além de transmitir a eles todos os conhecimentos teóricos de que precisam, aplicamos exercícios para que possam pôr em prática o que aprenderam. Esse treinamento é gravado e em seguida avaliado.

Durante certo tempo, para cada aspecto positivo do desempenho do aluno, apontávamos um negativo. Testamos depois fazer apenas uma crítica e reservar o restante da avaliação para elogiar. Concluímos finalmente que não havia necessidade da crítica para que aprimorassem suas habilidades de falar em público, bastavam só os elogios.

Há mais de 40 anos que adotamos essa filosofia de só elogiar com fundamentação. Cada elogio é feito a partir da observação dos acertos técnicos e das qualidades naturais de cada um. Todos eles constatam que os comentários encontram respaldo no que efetivamente aconteceu. A experiência demonstrou que as pequenas falhas em suas apresentações desaparecem com a prática, a observação e a confiança que adquirem aula após aula.

Se, por acaso, o defeito persistir, ou porque não conseguiram observar sozinhos, ou pelo fato de não encontrarem meios para resolver o problema, aí sim vamos ajudá-los naquele ponto específico. Jamais, entretanto, fazemos a crítica diante dos outros participantes. A conversa é sempre isolada. Também não mencionamos o deslize após a participação prática. Fazemos a orientação pouco antes de se apresentarem para um novo exercício. Recebem assim o comentário como uma sugestão para melhorarem ainda mais seu desempenho e não se sentem pressionados com a correção.

Todos, sem exceção, chegam ao final falando com desenvoltura, confiança e eficiência sem que para isso tenham sido criticados. É uma prova da importância do elogio sincero. Pode ser até que o aluno se sentisse envaidecido com um elogio falso, mas as outras pessoas, que observam o desempenho do colega, perceberiam que a avaliação não correspondeu à verdade e deixariam de confiar no que dizemos.

Além disso, se os elogios não fossem sinceros, correríamos o risco de construir um castelo de areia, que iria desmoronar no primeiro obstáculo que encontrassem.

Reflita como tem se comportado no seu relacionamento com familiares, amigos e colegas de trabalho. Se pensa que fazendo críticas o tempo todo estará ajudando, é possível que esteja fazendo mais mal que bem para a autoestima dessas pessoas. Tenha em mente ainda que, quase sempre, quem pede crítica, no fundo está esperando um elogio.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de Oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação, Gestão Corporativa e MBA em Gestão de Marketing e Comunicação na ECA-USP. Escreveu 34 livros, com mais 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/

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