Episódio com Simonal me fez refletir sobre o real valor da fama
Reinaldo Polito Publicado em 06/12/2024, às 14h02
Será que vale a pena ser famoso?
O que há por trás do fascínio da fama? Será que vale a pena persegui-la a qualquer custo? A vida de pessoas famosas parece glamourosa para quem observa de fora – perseguidas por paparazzi, reconhecidas e bajuladas, convidadas para eventos exclusivos. Mas a fama, como um espelho deformado, reflete tanto as luzes quanto as sombras de quem a conquista.
Reclamavam, mas não viviam sem a fama
Convivi com pessoas que experimentaram os dois lados desse fenômeno. Alguns adoravam o assédio constante, enquanto outros sentiam-se presos, incapazes de desfrutar um simples jantar sem serem abordados por pedidos de selfies e autógrafos.
Curiosamente, os que mais reclamavam do assédio pareciam também temer o esquecimento. Era como se o estrelato fosse ao mesmo tempo o fardo e o alicerce de suas vidas.
Um encontro com Wilson Simonal
Um episódio que me marcou profundamente foi quando, hospedado no Hotel Casagrande, no Guarujá, encontrei Wilson Simonal, um dos maiores ídolos da música brasileira e, para mim, o melhor showman que o país já viu.
Era madrugada, e eu estava no bar, tentando espantar o sono com um suco e alguns petiscos. A música ambiente, melancólica e discreta, criava um cenário quase teatral. Foi quando o vi. Sentado sozinho em um canto mal iluminado, Simonal encarava uma garrafa de uísque com o olhar perdido. Aquele homem que outrora regia multidões no Maracanãzinho, com uma voz incomparável e um carisma de tirar o fôlego, agora parecia absorvido por pensamentos sombrios.
A cena ficou gravada na minha memória. O que aquela fama, conquistada com tanto talento e dedicação, significava para ele naquele instante? Provavelmente, muito pouco. Era como se, nesse momento de solidão, ela tivesse perdido todo o sentido. Esse episódio me fez refletir sobre o real valor da fama.
A fama é um meio ou um fim?
Grandes filósofos já advertiram sobre os perigos da busca pela fama. Arthur Schopenhauer dizia que "a fama é algo que deve ser conquistado; a honra é apenas algo que não deve ser perdido". A fama pode ser um trampolim para conquistas importantes, mas, quando se torna uma busca em si mesma, muitas vezes devora quem dela se alimenta.
Basta lembrar de quantos artistas renomados, admirados por multidões, terminaram suas vidas de forma trágica, como Marilyn Monroe ou Michael Jackson. Apesar do brilho exterior, a solidão e o vazio interno se tornaram insuportáveis.
E, ainda assim, a fama pode ser uma ferramenta poderosa, se usada com propósito. Não são poucos os exemplos de pessoas que canalizaram seu reconhecimento público para causas que realmente importam, transformando seu prestígio em algo maior que eles mesmos. Até hoje, após tantos anos de sua morte, o nome de Ayrton Senna continua a inspirar e ajudar pessoas, especialmente no campo educacional.
O que podemos aprender
Quando vejo alguém dotado de grande talento lutando por reconhecimento, me pergunto: será que está buscando a fama pela fama, ou tem algo maior em mente? Se há um propósito claro, algo que vá além do simples desejo de ser aplaudido, talvez a fama faça sentido. Caso contrário, ela pode se transformar em uma armadilha dourada, onde o brilho cega mais do que ilumina.
A cena no bar do Casagrande nunca saiu da minha mente. Wilson Simonal, meu ídolo de tantos momentos, estava ali, sozinho, tão próximo, mas talvez desejando estar em qualquer outro lugar. Para ele, naquele instante, a fama parecia mais um peso do que uma dádiva.
Um relato do Professor Marins
Lembro-me de uma história curiosa que ouvi de Luiz Marins, um amigo de longa data. Ele procurou o advogado de Roberto Carlos, preocupado com comentários maldosos e mentirosos que poderiam prejudicar sua imagem.
O advogado respondeu com ironia:
“Enquanto não estiverem inventando histórias absurdas sobre você, como ‘cair bêbado em um bordel’ ou ‘fumar maconha com adolescentes’, você não precisa de mim.”
Marins concluiu que os comentários eram apenas reflexos da fama que havia conquistado e que não deveriam ser motivo de preocupação. Essa resposta simples do advogado ilustra bem os perigos da fama e as narrativas que ela constrói.
No fim, cabe a cada um decidir se quer viver para a imagem no espelho ou para aquilo que está por trás dela.