Política

A cadeirada de Datena em Marçal

Ao analisar o fato com distanciamento, essa deve ser a análise: como nos comportaríamos se a vítima da agressão fosse o nosso candidato?

Algumas pessoas deram razão ao agressor, outros ao agredido. - Imagem: Divulgação
Algumas pessoas deram razão ao agressor, outros ao agredido. - Imagem: Divulgação
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 16/09/2024, às 14h53


Hoje não se fala em outro assunto: a cadeirada que o candidato José Luiz Datena deu em seu adversário Pablo Marçal durante o debate realizado neste domingo na TV Cultura. Os dois concorrem à Prefeitura de São Paulo.

Com seu estilo característico, Marçal cutucou Datena com vara curta: “Você é arregão. Você atravessou o debate esses dias para me dar um tapa e falou que você queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso. Você não é homem”.

A origem

Ele fazia alusão ao debate em que Datena saiu do seu pódio e ameaçou dar um tapa em Marçal, mas, na última hora, se arrependeu e voltou para o seu lugar. Esse assunto viralizou durante esses dias todos. O fato de ter recuado foi visto por alguns como ato de covardia.

Desta vez, o sangue ferveu e Datena perdeu a cabeça. Por causa dessa agressão, ele foi expulso do debate e Marçal precisou ser hospitalizado. As opiniões se dividiram. Algumas pessoas deram razão ao agressor, outros ao agredido.

Posições ideológicas

A esses que se dizem imparciais, sugiro uma reflexão: se você é petista, imagine o Lula levando uma cadeirada de Bolsonaro. Ao contrário, se você for bolsonarista, imagine o presidente de honra do PL levando uma cadeirada do líder petista. Só de pensar você já deve estar irritado.

Ao analisar o fato com distanciamento, essa deve ser a análise: como nos comportaríamos se a vítima da agressão fosse o nosso candidato? Certos analistas, para justificar sua opinião, resgataram fatos ocorridos em passado recente, como, por exemplo, o tapa que Augusto Nunes deu em Glen Greenwald, no Programa Pânico, da Jovem Pan.

Casos distintos

Como os conservadores deram razão a Nunes por ter reagido diante das constantes acusações de que era covarde, agora seus adversários julgam que também deveriam apoiar a atitude de Datena. Na verdade, nenhuma ação descontrolada pode ser justificada.

Esses entreveros não são privilégio dos dias atuais. A nossa história está repleta de exemplos de brigas entre adversários políticos. Uma que é repetida à exaustão foi protagonizada por Franco Montoro e Reinaldo de Barros, quando concorreram ao governo de São Paulo em 1982. Era a volta dos debates depois de anos de regime fechado pelos militares.

Cala a boca!

Em determinado momento, Montoro fala para Reinaldo de Barros para calar a boca. Essa cena ganhou mais páginas na imprensa que o debate em si. Foi uma atitude inesperada, que não combinava muito com o estilo “democrático” de Montoro. Não houve consequência. O assunto, apesar da divulgação, morreu ali.

Brizola X Maluf

Outra “briga de rua” aconteceu em 1989 durante o debate entre Brizola e Maluf na campanha presidencial. Maluf disse que Brizola havia passado 15 anos no exterior e não havia aprendido nada. E emendou: “Pior. Não esqueceu nada”, referindo-se ao fato de ser esquerdista. Por causa da reação da plateia, Brizola diz: “Malufistas! Filhotes da ditadura”.

E assim, tivemos embates com ofensas de lado a lado entre Maluf (sempre ele) e Marta Suplicy, com direito a repeteco do que ocorreu em 1982: “Marta, fique quietinha”. Em resposta, ela retrucou: “Cala a boca, Maluf”. Ele não deixou por menos: “Cala a boca você”.

Montoro X Jânio

Entre as dezenas de casos que poderiam ser mencionados, vale a pena relembrar o entrevero entre Franco Montoro e Jânio Quadros. Eles participaram do debate na campanha estadual, em 1982. Dá para ver que Montoro estava afiado. Só que Jânio era um craque nesses confrontos.

Montoro acusa Jânio com uma citação de Clemente Mariano, ministro da fazenda durante o seu governo na presidência. Ao falar da renúncia do presidente mencionou: “Saiu mais cara que a construção de Brasília”. Sem demonstrar qualquer tipo de constrangimento, Jânio interpelou qual era a origem da citação. Montoro pega um livro com as memórias de Carlos Lacerda.

Resposta com ironia

Com toda a ironia que pôde encontrar, Jânio alfinetou: “Está dispensado da citação”, e complementa: “O senhor acaba de querer citar as Escrituras valendo-se de Asmodeus ou de Satanás”. Todos riram, inclusive Montoro. E não se falou mais no assunto.

O episódio de Marçal e Datena ocorre em época diferente. Com certeza, não está nem próximo de um ponto final. Veremos ataques generalizados, inclusive com torcida de ambos os lados. Notícia é o que não vai faltar.

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