Precisa ser criterioso na escolha dos argumentos, sempre com a preocupação de identificar boas fontes para que se tornem consistentes
Reinaldo Polito Publicado em 14/07/2023, às 08h43
Embora os ouvintes com preparo intelectual possam ser mais exigentes, são também, ao mesmo tempo, aqueles que compreendem mais facilmente todo tipo de mensagem. Não aceitam, sem refletir, qualquer argumento. Esperam que o orador forneça a fonte de onde extraiu suas teses. Quanto mais consistente for a origem da informação, mais receptivos se mostrarão a ela.
Nas reuniões corporativas, quem apresenta projetos e propostas, ou discute temas que requerem decisões, salvo uma ou outra exceção, são esses ouvintes que terá pela frente.
São profissionais quase sempre acostumados a esse tipo de encontro, com boa formação técnica e intelectual. Pessoas com esse preparo acompanham sem esforço pensamentos complexos e até abstratos. Ainda que não entendam determinado conceito, conseguirão deduzir seu significado dentro do contexto da apresentação. Por isso, desde que haja lógica na sequência da exposição, o orador não precisará se preocupar muito se está sendo ou não compreendido.
Tanto que, nesses casos, é preciso tomar cuidado para não desestimular os ouvintes com excesso de explicações. Esse é um equívoco de algumas pessoas, repetem duas ou três vezes a mesma informação partindo da pressuposição de que não ficou claro o que disseram. Esse é o público ideal para o orador se valer de tiradas espirituosas e de ironias finas.
Ao lançar mão desses recursos, demonstrará que possui “luzes”, inteligência, boa formação. Ou seja, projeta com essas sutilezas uma imagem positiva e conquista, assim, mais credibilidade para transmitir a mensagem. Nos momentos em que faz uso de informações subentendidas, estará sutilmente elogiando a inteligência dos ouvintes. É como se dissesse: Sei que vocês são bem preparados. Por isso, posso falar nas entrelinhas que vão acompanhar e entender a brincadeira.
Diante de plateias com essas características, o orador poderá apresentar sua linha de argumentação, e, ao chegar no final, levantar uma reflexão, deixando por conta dos ouvintes a conclusão. As pessoas com boa formação até sentem prazer em fazer sozinhas as deduções. Há aí um fenômeno curioso.
Durante a exposição, o orador vai impregnando a mente das pessoas com seus argumentos. Quando, no final, levanta uma reflexão, o público vai ponderar, geralmente, com base no que ouviu. Portanto, a chance de que cheguem às conclusões pretendidas por quem fala é bem maior.
Com a vantagem de que os ouvintes terão a impressão de chegarem sozinhos à conclusão, quando na verdade, foram induzidos pela argumentação do orador.O fato de os ouvintes imaginarem ter essa liberdade de pensar por conta própria, sem interferência de outra pessoa, afasta o risco de possíveis resistências emocionais.
Há situações em que surge um forte desejo de ter liberdade para, sozinho, tomar as decisões e chegar às conclusões. Quanto mais o indivíduo sente que está sendo pressionado pelos argumentos contrários, mais tem a sensação de que perde essa independência. Por isso, ainda que conclua estar errado e que o interlocutor está certo, para manter sua liberdade de pensar, continua resistindo ao que ouve.
Ao ter essa percepção de que ninguém o obriga a agir de uma maneira ou de outra, deixa de pôr obstáculos. Acha que decidiu sozinho, quando, na verdade, foi persuadido a se comportar da maneira como se comportou. Portanto, ao tratar com pessoas de nível mais elevado, o orador pode se apresentar sem a preocupação de que a mensagem seja muito difícil de ser entendida.
Precisa ser criterioso na escolha dos argumentos, sempre com a preocupação de identificar boas fontes para que se tornem consistentes. Deve evitar repetições desnecessárias para não incomodar o público, já que, provavelmente, os ouvintes entendem bem na primeira explicação. Desde que não se transforme no “bobo da corte”, está livre para explorar a presença de espírito, de preferência as ironias sutis, deixando de lado os trocadilhos, que normalmente são de mau-gosto.
É um público que exige mais preparo e autoridade do orador, mas aceita bem a mensagem quando percebe que está corretamente sustentada e compõe uma estrutura lógica de unidade e raciocínio.
Siga pelo Instagram: @politoReinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação e Gestão corporativa na ECA-USP. Escreveu 34 livros, com mais 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/
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