Candidatos à prefeitura de São Paulo analisados por uma senhora de 96 anos

Sou um privilegiado. A vida inteira morei com a minha mãe, que hoje está com 96 anos de idade. Uma pessoa lúcida, alegre e muito antenada. Só para dar ideia da sua atividade, não passam dois dias sequer sem ligar para todos os netos para saber das novidades. E eles adoram.

Quase todos os dias, escrevo um novo artigo, às vezes até mais de um no mesmo dia. Além desses textos, me dedico aos livros. Publiquei o primeiro há 40 anos, e hoje já são 37. Quase um por ano. Prefiro me dedicar a essa tarefa durante a madrugada. Sou mais produtivo.

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Minha parceira quase centenária está sempre ao meu lado. De vez em quando, pede para eu ler para ela o que acabei de escrever. No final, dá o seu veredito. Às vezes diz que ficou muito bom. Em outras ocasiões torce o nariz, principalmente quando a análise política critica quem seja da sua preferência.

Olho firme para ela e comento: ‘Epa, isso não é análise, é torcida’. Como se fosse apanhada fazendo uma traquinagem, ri muito. Mas essa senhora simpática gosta mesmo é de assistir aos programas jornalísticos e de debates pela televisão. Como na última quinta-feira, não perdeu um minuto do confronto entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, pela Rede Bandeirantes. Vou dar aqui um resumo do que ela observou com sua sensibilidade aguçada.

Datena não se saiu bem

Estranhou o Datena. Não entendeu como uma pessoa com tanta experiência na televisão, na maior parte do tempo, fugiu com os olhos, sem olhar para a câmera. Além disso, gaguejou além do normal. Ela supunha que, depois de tantos anos apresentando programas, ele pudesse ter desempenho melhor. Atribuiu nota 7.

Boulos fugiu das perguntas

Não se conformou com o fato de Boulos ser tão articulado e não conseguir responder objetivamente às questões que foram formuladas. A cada momento dizia: veja, ele fala, fala, mas não esclarece as perguntas levantadas. Ela afirmou que admira a maneira como constrói as frases, encontra as palavras e usa a gesticulação. É bom de conversa, mas ruim de resposta. Atribuiu nota 6.

Gosta do Ricardo

Ficou encantada com Ricardo Nunes. Insisti com ela: ‘Gostou da apresentação do prefeito?’ Sua resposta foi firme: ‘Sempre gostei. Ele tem um jeito meio recatado, até tímido, mas passa a impressão de saber o que fala’. Achou que no debate ele falou com um pouco mais de veemência do que tem se apresentado em seus pronunciamentos. Não vacilou ao dar a nota, 10.

Não conhecia bem o Marçal

Não estava muito familiarizada com o Pablo Marçal. Só havia visto alguns vídeos curtos que mostrei a ela como curiosidade. Na sua opinião, saiu-se bem. Talvez agressivo além do normal, mas entende que assim como ela muitas pessoas também não o conheçam. Por isso, esse jeito mais contundente de criticar e fazer suas propostas, firme, mas sem tanto exagero, o ajuda a ser mais conhecido pelos eleitores. Ela atribuiu nota 8.

Tabata teve a pior nota

Já tinha visto alguns pronunciamentos da Tabata Amaral. Gosta da sua carinha bonita e do seu jeito meigo de falar. Não achou boa a participação dela fazendo ataques pessoais. Poderia ter aproveitado mais o tempo para falar das suas propostas. Também julgou que para dirigir uma cidade como São Paulo precisaria ser mais consistente. Não soube explicar essa sua opinião, foi mais um sentimento. Atribuiu nota 5.

Perguntei no final: ‘E aí, de forma geral, gostou do debate?’ Disse que sim, mas cansou um pouco, pois houve um momento que até chegou a cochilar. Além disso, acreditava que, pelo horário, poucas pessoas estariam assistindo às apresentações na televisão. Concordamos que quem tiver mais seguidores nas redes sociais, poderá usar cortes dos seus melhores momentos para que saibam o que falou.

Tudo em aberto

Enfim, esse foi o primeiro confronto. Alguns dos candidatos não estavam bem-inteirados dos temas ligados ao município. A partir de agora, poderão se aprofundar mais nos problemas da cidade e melhorar a participação em outros eventos. E será um prazer continuar assistindo a esses debates ao lado dessa mulher inteligente, que consegue perceber o que está até por trás das palavras.

O que achei interessante foi o fato de a Vó Lu analisar mais pela emoção que pela razão. Provavelmente, esse também será o comportamento da maioria dos eleitores. Quem conseguir sensibilizar o coração das pessoas terá mais

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