Comunicação

Lula diz “sabe?” e Bolsonaro “talkey?” porque eles não sabem o que dizer

Por que será que essa repetição viciosa está presente na comunicação dessas pessoas?

As repetições viciosas enfeiam a comunicação - Imagem: Redes Sociais
As repetições viciosas enfeiam a comunicação - Imagem: Redes Sociais
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 17/05/2024, às 21h36


Cada político tem um vício para chamar de seu. As repetições viciosas enfeiam a comunicação e chegam a prejudicar a concentração dos ouvintes. Dizer, por exemplo, três ou quatro “nés” em uma apresentação de cinco a dez minutos não tem nenhum problema, pois quase sempre faz parte da naturalidade.

O que não pode é o orador usar “né?”, “tá?”, “ok?” “percebe?”, “entendeu? a cada duas ou três frases. Fica difícil para alguém se concentrar quando essa repetição viciosa é muito frequente. Todos esses fazem parte da família do “né?”.

Portanto, para facilitar, vamos denominar todas essas repetições viciosas como sendo “né?”. Os dois maiores nomes da política brasileira possuem um vício peculiar, que os caracteriza.

O vício de algumas personalidades

Lula repete com bastante frequência o “sabe?”. Bolsonaro, por sua vez, usa o tempo todo o “talkey?”. Outro caso célebre foi o de Pelé, que costumava encerrar suas frases com “entende?”. Neste caso, ocorreu um fenômeno interessante. O vício ficou tão evidente na sua comunicação que passou a funcionar como espécie de marca registrada.

O craque chegou a fazer algumas propagandas com uma autogozação, encerrando a última frase da peça publicitária sorrindo e dizendo “entende?”. Essa situação não é tão incomum, já que há diversos exemplos de pessoas que fizeram do seu vício um aspecto característico, marcante.

Por que será que essa repetição viciosa está presente na comunicação dessas pessoas? Alguns motivos explicam o aparecimento desse hábito. Aproveite para verificar se você também não foi atacado por alguns deles e aprenda como eliminá-los.

Por falta de consciência

O primeiro motivo é a falta de consciência. É comum nos nossos cursos de oratória gravarmos as apresentações dos alunos. Quando assistem ao vídeo, se surpreendem com a grande quantidade de “nés” em suas falas. Alguns chegam a contar de 20 a 25 “nés” em pouco mais de três minutos.

Ao constatar a presença do vício se sentem incomodados e passam a eliminá-lo. A partir daí, todas as vezes que o “né?” aparece ficam indignados. Afinal, como podem usar esse advérbio se estão lutando tanto para retirá-lo da sua comunicação?! Nem sempre é um defeito.

Há situações em que servem como marcadores conversacionais ou de medida para verificar se a mensagem está sendo compreendida. Segundo Jakobson, é a função metalinguística, em que emissor e o receptor necessitam se certificar de que estão usando o mesmo código para se comunicar.

Passa a ser um ruído, entretanto, quando aparecem com frequência exagerada e sem que o orador tenha consciência da sua presença. Por isso, não se

preocupe se vez ou outra disser algum “né?”. De vez em quando, como vimos, até faz parte da naturalidade da comunicação.

Por insegurança

O “né?’ aparece também por insegurança. Quando a pessoa está insegura, tem a tendência de encerrar as frases com a entonação de quem pergunta, não de quem esteja afirmando. Por isso, o “né?” aparece como fechamento da pergunta. Esse é um dos motivos mais comuns.

Assim, observe como está encerrando as frases. Se estiver fazendo pergunta quando deveria afirmar, mude o registro e passe a fazer afirmações no lugar das perguntas. Há casos de alunos que a partir dessa mudança, imediatamente conseguem eliminar mais de 80% dos “nés’. O resultado é impressionante.

Por pontuação inadequada

O “né?” surge também por causa da pontuação. Algumas pessoas em vez de encerrar as frases com ponto final, usam uma espécie de vírgula. Essa entonação dá a impressão de que a frase terá continuidade. Mas como não há nada mais a dizer, apelam para o “né?” para indicar que encerraram. A sugestão aqui é parecida com a anterior. Comece a usar ponto e não vírgula para concluir.

Por questionamento artificioso

Agora chegamos aos casos de Lula, que usa o “sabe?”, Bolsonaro, que usa o “talkey?” e Pelé, que usava o “entende?”. São artifícios. É como se estivessem formulando uma pergunta para o ouvinte, quando, na verdade, só estão ganhando tempo para pensar no que irão dizer a seguir. É possível afirmar que quando Lula diz “sabe?” é porque ele não sabe o que irá dizer.

A partir de todas essas causas que analisamos, considere alguns pontos. Se você tiver consciência. Se tiver segurança para encerrar afirmando e não fazendo pergunta. Se puser ponto final e não vírgula. E se eliminar essas perguntas desnecessárias. No final fará uso dos três ou quatro “nés” que mencionamos, sem nenhum problema para a qualidade da sua comunicação.

Vale a pena investir na eliminação dessas repetições viciosas e no aprimoramento da sua comunicação. Será uma conquista importante para melhorar sua linguagem e projetar de forma mais segura a sua personalidade. Né?

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