Política

Marçal e Carlos Bolsonaro conversam e acertam as diferenças

Era apenas um sentimento de mágoa que se fortaleceu devido a lembranças que agora já não faziam mais sentido

Os adversários de Marçal e opositores de Bolsonaro esfregavam as mãos vendo o circo pegar fogo - Imagem: Divulgação/ Redes Sociais
Os adversários de Marçal e opositores de Bolsonaro esfregavam as mãos vendo o circo pegar fogo - Imagem: Divulgação/ Redes Sociais
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 31/08/2024, às 12h13


Desde criança ouço dizer: “conversando a gente se entende”. Essa é uma verdade. Quantas vezes, por motivos já esquecidos, as pessoas se digladiam, ofendem, criticam e recorrem a todo tipo de artifício para desqualificar o desafeto. Em determinado momento, por vontade de uma das partes, ou por intermediação de alguém mais ponderado, resolvem conversar.

Para surpresa de ambos, ninguém tinha nada contra o outro. Era apenas um sentimento de mágoa que se fortaleceu devido a lembranças que agora já não faziam mais sentido. Descobrem que tinham mais pontos convergentes que desavenças. Conseguiram abrir o coração e mostrar que são transparentes e confiáveis.

Gênio forte

Esse fenômeno parece ter ocorrido entre Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, e Carlos Bolsonaro, o zero dois do ex-presidente. Os dois possuem gênio forte e não têm papas na língua. Não se escondem atrás de meias palavras. Falam o que pensam e, por esse motivo, vez ou outra, estabelecem embates difíceis.

Dava a impressão de que as diferenças entre eles não poderiam ser superadas. Por acordo político com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Jair Bolsonaro, aparentemente contrariado, foi ‘obrigado’ a apoiar Ricardo Nunes na campanha à prefeitura de São Paulo. O ex-presidente sempre deixou claro que seu preferido era Ricardo Salles.

Nós? Um abraço

Pablo Marçal, embora diga entender a posição do líder conservador, não perdia oportunidade de dar umas cutucadas. A troca de farpas se acentuou quando Marçal se colocou como aliado de Bolsonaro: “Pra cima, Capitão. Como você disse – eles vão sentir saudades de nós”. O ex-presidente demonstrou não ter gostado muito dessa aproximação e retrucou: “Nós? Um abraço”.

Eduardo Bolsonaro resolveu entrar no imbróglio e também rechaçou o comentário de Marçal: “Estranho. Em 2022 você disse que a diferença entre Lula e Bolsonaro é que um deles tinha um dedo a menos. Só acordou agora? Tá parecendo até o Mourão (senador e ex-vice-presidente)”. Marçal não engoliu calado e foi para o ringue:

“Isso mesmo, presidente. Coloquei 100 mil na sua campanha, te ajudei com os influenciadores, te ajudei no digital, fiz você gravar mais de 800 vídeos. Por te ajudar, entrei agora para a lista de investigados da PF. Se não existe o nós, seja mais claro”.

Atacou Carlos

A metralhadora verbal de Pablo também se voltou contra Carlos. Disse que ele foi um “dos motivos determinantes” da derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. Chamou-o de “raivoso e rancoroso”. Na troca de farpas, o zero dois retrucou: “Está tudo tão descarado: onde vai, como vai e o que fala. Tô nem aí.

Vá ser a nova direita onde quiser e como quiser. Somente pare de mentir usando meu nome pelo amor de Deus”.

Diante desse quadro, tudo indicava que essas rusgas não poderiam ser superadas. Pois não é que conseguiram fazer as pazes?! Essa briga só beneficiaria à esquerda.

Os adversários estavam gostando

Os adversários de Marçal e opositores de Bolsonaro esfregavam as mãos vendo o circo pegar fogo. Algumas pessoas deduziram que o ex-presidente viu em Marçal uma ameaça para a sua liderança e, por isso, resolveu atacá-lo.

Só que Marçal demonstrou possuir muita musculatura, e tê-lo como inimigo não seria recomendável.

Com a ajuda do deputado Nikolas Ferreira, que atuou como mediador nos bastidores, os dois resolveram deixar as desavenças para trás. O próprio Marçal, em entrevista no Flow Podcast, disse que Nikolas ligou para ele e perguntou se toparia falar com o Carlos. Os dois, então, conversaram amigavelmente pelo telefone e se reconciliaram.

Carlos levanta a bandeira branca

Em uma publicação no X, Carlos disse que conversou com Marçal, que foi “muito educado e bacana”. Revelou que depois da conversa ele saiu com o coração leve. Conseguiram esclarecer suas divergências e perceberam que compartilham o mesmo objetivo em relação ao futuro do país:

“Falamos sobre o 7 de setembro, censura e tudo o que o país vem atravessando já há muito tempo. Outro ponto que fiz questão de frisar é que não existe formação de um gabinete direcionado para nenhum tipo de ação e que ambos sofremos cobranças naturais no processo que estamos dispostos a atravessar”.

O que virá pela frente

Vamos ver como Bolsonaro se comportará daqui em diante. Não poderá quebrar o acordo que fez com o presidente do seu partido para apoiar Ricardo Nunes, mas, por outro lado, também não vai se lançar em um projeto suicida. Se as pesquisas confirmarem a tendência atual, Nunes não continuará à frente da prefeitura. Insistir com ele seria protagonizar um abraço de afogados.

Deve ocorrer o seguinte: formalmente, Bolsonaro apoia Nunes, mas poderá deixar claro que está firme com Marçal. Uma vela para o santo e outra para o diabo. De um jeito ou de outro, qualquer um dos dois candidatos que vença, será uma vitória para Bolsonaro, pois terá derrotado Boulos, apadrinhado de Lula.