Alguns oradores ficam totalmente desestabilizados nessas circunstâncias
por Reinaldo Polito
Publicado em 16/08/2024, às 12h40
Pense na cena: você está ministrando uma palestra e, do nada, um ouvinte começa a falar em tom agressivo porque não concordou com alguma informação. Até você entender o motivo daquela interferência inesperada e descobrir uma maneira de contornar o imprevisto leva tempo.
Ao longo das últimas cinco décadas atuando como palestrante, já tive experiências suficientes para saber como me comportar. Só como exemplo do tipo de interrupção a que estamos sujeitos, vou contar uma história pessoal. O que me surpreendeu bastante no momento em que aconteceu.
A receita desandou
Um ouvinte se mostrou indignado porque eu disse que as técnicas que seriam discutidas na palestra poderiam ser úteis nas apresentações de projetos e propostas nas reuniões corporativas. Esse é um recurso que sempre dá resultado, pois serve para conquistar o interesse do público ao descobrirem que terão benefícios.
Nesse dia, a receita desandou quando o ouvinte afirmou que não aceitava esse tipo de informação, pois caberia a ele julgar, no final, se haveria ou não benefícios para as reuniões das quais deveria participar.
Sem dúvida, a intenção dele era criar caso. Até hoje, foi a única pessoa que revelou não concordar com esse tipo de aviso antecipado sobre as vantagens da mensagem.
Ele se acalmou
Ao perceber que sua intenção era só a de provocar, concordei com ele que talvez a minha abordagem pudesse ser outra. Ele ficou calmo e não se manifestou mais. O que importava naquele instante era acabar com a polêmica e continuar normalmente a minha apresentação. Deu certo.
Alguns oradores ficam totalmente desestabilizados nessas circunstâncias. Nesta semana, participei do programa de entrevistas do jornalista Carlos Tramontina, e esse tema, que havia sido abordado como conversa de bastidores, acabou entrando na pauta do podcast.
Atitudes recomendáveis
Concordamos que todos nós estamos sujeitos a essas investidas, e que não é simples contornar o problema. O fato de não ser simples não significa que não haja saída. Vou passar aqui as informações que forneci durante a entrevista. São caminhos que podem nos livrar dessas situações constrangedoras.
1 – Concorde com o ouvinte
Procure não se desestabilizar e manter a calma da melhor forma que puder. Mesmo que tenha vontade de apertar o pescoço dele, não caia nessa tentação, pois só iria complicar mais a situação. Uma boa atitude é dizer que o ouvinte tem razão, se pensar mesmo dessa forma, e que talvez devesse abordar a questão por outro ângulo.
Tente demonstrar sinceridade ao falar, para não dar a impressão de que está sendo irônico. Em seguida, agradeça a participação dele. Provavelmente, essa demonstração de identidade na forma de pensar poderá tornar o ouvinte mais dócil e compreensivo.
2 – Não parta para o confronto
A pior atitude de um palestrante é revidar a agressão recebida. Quando somos “atacados” por um ouvinte, nos tornamos a vítima e ele o agressor. Por isso, temos a solidariedade da plateia. Se revidarmos à agressão, invertemos os papeis: nós passamos a ser os agressores e o ouvinte, a vítima. Dessa forma, perdemos a “torcida” do público.
3 – Pedir mais esclarecimentos
Uma boa tática é a de pedir que o ouvinte explique melhor o que está dizendo. Ao dar essas informações adicionais, talvez perceba que está sendo muito radical com seu ponto de vista e diminua a intensidade das críticas. Se a primeira explicação não for suficiente, nada impede que você peça outros esclarecimentos.
4 – Reconhecer que estava errado
Não é fácil ter a humildade de reconhecer diante de uma plateia que estamos errados, mas se existir alguma possibilidade, por mínima que seja, de dizer que houve uma falha na sua maneira de pensar, poderá ser uma boa demonstração de grandeza e conquistar assim a boa vontade de quem o estava agredindo.
Não haveria vantagem
Você não teria nenhuma vantagem em continuar discutindo com o ouvinte. Se for necessário deixar que ele tenha a sensação de estar com a razão, talvez a contenda seja interrompida naquele momento. O que interessa nesse momento é encontrar condições de cumprir a sua apresentação.
Como bem observou Napoleão Bonaparte: “Os agressores são culpados no céu; na Terra eles têm razão.” Essa frase nos lembra que, em muitas situações, conceder a vitória aparente ao agressor pode ser a melhor estratégia para evitar o prolongamento do conflito e garantir o andamento tranquilo de sua apresentação.
Preparados com as estratégias
É impossível prever todos os dissabores que possam surgir durante o discurso, pois o importunador aparece quando menos esperamos e com as mais variadas críticas ou objeções. Por isso, precisamos nos preparar para as estratégias a serem utilizadas, independentemente do aspecto levantado.
Tomara que esses fatos desagradáveis nunca ocorram com você, mas se for vítima da presença de um ouvinte encrenqueiro, que encontre tranquilidade, paciência e lucidez para contornar essas situações desagradáveis.
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