Oratória

Pessoas prolixas chegam a ser intoleráveis, assim como as concisas demais

Ao falar em público, o orador deve revelar qual o problema que pretende solucionar

Alguns acham que ir diretamente ao ponto é sempre um mérito. Nem sempre - Imagem: Pixabay
Alguns acham que ir diretamente ao ponto é sempre um mérito. Nem sempre - Imagem: Pixabay

Reinaldo Polito Publicado em 01/09/2023, às 09h39


É preciso muita paciência para aguentar pessoas prolixas. Elas falam, falam, falam, e não conseguem pôr ponto final em suas arengas. Por outro lado, gente concisa demais também pode ser irritante. Interrompem a sequência de qualquer assunto, e obrigam o interlocutor a “fabricar conversa”.

Nos dois casos, é possível resolver o problema com a técnica adequada. É um passo a passo que permite a quem fala em público, ou precisa se relacionar socialmente, estabelecer uma medida agradável para as suas apresentações.

Alguns acham que ir diretamente ao ponto é sempre um mérito. Nem sempre. Além de a pessoa correr o risco de se tornar desagradável, há outro dado relevante que precisa ser considerado.

Até nas apresentações corporativas esse excesso de objetividade pode provocar prejuízos. A pesquisa divulgada pela Universidade de Maryland mostra um dado impressionante: se o orador partir diretamente para o assunto principal, sem fazer antes uma introdução que o ajude a conquistar os ouvintes, suas chances de ser vitorioso serão reduzidas em 30%. Portanto, concisão demais leva às vezes a resultados negativos.

A respeito dos tagarelas noveleiros nem é preciso muitas explicações. Nunca encontrei uma pessoa que dissesse gostar de ouvir histórias sem fim. Ao contrário, na primeira oportunidade, arrumam uma desculpa e se afastam. Como, então, contornar esses entraves que são veneno para a boa comunicação?

No caso das conversas, exceto o início, que é o momento dos cumprimentos, o que ocorre depois é uma troca de informações e de opiniões sobre determinado tema. Perguntas abertas, como, por exemplo: por quê? de que maneira? como? ajudam no desenvolvimento do contato.

Uma rápida história interessante pode também servir para ilustrar o tema abordado e tornar o relacionamento mais instigante. A pessoa que fala não se torna objetiva em excesso, e, sendo precavida, não estica em demasia os casos, nem repete o que já foi dito, tornando o momento agradável.

Já para quem fala em público há peculiaridades que devem ser observadas. Uma breve introdução é recomendável em todas as circunstâncias. Não custa nada fazer um rápido agradecimento logo depois de cumprimentar o grupo, e mostrar de forma clara quais os benefícios que todos terão com a mensagem.

Observe que nessas circunstâncias o tempo a ser consumido, de maneira geral, é mínimo. Além de o orador não se estender e evitar a prolixidade, também não será conciso a ponto de não esclarecer o que deve ser evidenciado.

Na sequência, é preciso, logo após a introdução, revelar em poucas palavras qual o assunto que será abordado. Não há necessidade de usar mais que uma ou duas frases para informar aos ouvintes a respeito do tema que será abordado. Por exemplo, em uma reunião: “O objetivo desse nosso encontro é o de estabelecer as metas de vendas para o próximo semestre”.

Durante as conversas, essa preocupação de informar qual será o assunto pode ser afastada. As ideias se sucedem naturalmente e o tema já fica subentendido. Trocar perguntas é uma boa solução para evitar a prolixidade e concisão demasiada.

Ao falar em público, o orador deve revelar qual o problema que pretende solucionar, ou fazer um histórico da novidade que deseja expor. Dessa forma, irá instruir adequadamente sobre o que irá desenvolver, facilitando a compreensão dos ouvintes.

No relacionamento social, na maioria das circunstâncias, muito raramente a intenção é a de solucionar problemas. Nesses casos, o objetivo é o de comentar sobre assuntos da atualidade, contar histórias de viagens, ou de fazer revisão de fatos curiosos dos quais o grupo tenha participado.

Finalmente, nas apresentações em público, dará a solução ao problema ou mostrará a novidade prometida, que é, na realidade, o objetivo do discurso. Um bom exemplo ajuda as pessoas a entenderem de um jeito mais evidente o que foi proposto.

Com toda a sequência desenvolvida, chegou o momento de encerrar. Uma boa conclusão é a de pedir que os ouvintes reflitam ou ajam de acordo com as propostas feitas.

Durante uma conversa é importante observar o comportamento das pessoas. Se alguém começa a cruzar e descruzar os braços, dar tapinhas nas pernas, colocar um dos pés mais para o lado, é sinal de que talvez seja interessante partir para as despedidas.

É uma estrutura lógica para apresentar qualquer tipo de mensagem, tanto para falar em público quanto para se relacionar socialmente. Ao seguir cada uma dessas etapas, a pessoa não pecará por falta nem por excesso de palavras.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação e Gestão corporativa na ECA-USP. Escreveu 34 livros, com mais 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/