Comunicação

Por que gosto de proferir palestras e ministrar aulas nas faculdades?

Os advogados e fonoaudiólogos são os que mais me procuram

Em algumas aulas, sem que pareça forçado ou artificial, dentro do contexto da matéria ministrada, visto a camisa do “glorioso” time da Ferroviária de Araraquara - Imagem: Divulgação
Em algumas aulas, sem que pareça forçado ou artificial, dentro do contexto da matéria ministrada, visto a camisa do “glorioso” time da Ferroviária de Araraquara - Imagem: Divulgação
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 19/07/2024, às 13h16


Quem consegue entender esses jovens de hoje? Nos extremos, escrevem tudo abreviado, não obedecem à pontuação e, em alguns casos, falam por grunhidos. Garanto que todos nós podemos entender e até aprender com eles, desde que tenhamos a mente aberta para acompanhar as mudanças na comunicação.

Já proferi palestras em faculdades dos mais diferentes cantos do país. Para todos os tipos de cursos. Os advogados e fonoaudiólogos são os que mais me procuram. A minha filha Rachel e eu falamos diversas vezes, em apresentações online, para plateias de até 10 mil alunos. Foram experiências inesquecíveis.

Nos últimos 22 anos, tenho dado aulas em quatro cursos de pós-graduação na ECA-USP: Marketing Político, Gestão Corporativa, Gestão de Comunicação e Marketing e MBA de Gestão de Comunicação e Marketing. Incontáveis universitários recebem nossos ensinamentos. Conviver com esses jovens é enriquecedor. Uma excelente oportunidade de aprendizado.

Linguagem “contaminada”

Quem são os alunos que frequentam o nosso curso de oratória? São profissionais da alta gerência, diretores, vice-presidentes, empresários, políticos e liberais. A maioria deles já com muita experiência no comando de importantes organizações.

Se eu não tomar cuidado, meu contato frequente com esses profissionais poderá “contaminar” minha linguagem, afastando-a da comunicação dessa garotada que está sempre se renovando.

Processo de mão dupla

Enquanto oriento esses alunos para aprimorar a comunicação, recebo deles um ensinamento importante. Posso avaliar se as minhas piadas ainda provocam risadas e se consigo manter a atenção deles por duas ou três horas,

muitas vezes sem intervalos. Em outras palavras, analiso se a maneira como me expresso vence a concorrência do celular.

A cada curso, com alunos diferentes, recebo uma espécie de oxigênio que me mantém atualizado em termos de vocabulário, de expressões, de presença de espírito, de humor. Talvez eles não saibam, mas há situações em que aprendo mais do que ensino.

Em algumas aulas, sem que pareça forçado ou artificial, dentro do contexto da matéria ministrada, visto a camisa do “glorioso” time da Ferroviária de Araraquara. Eles se divertem. Não houve um dia sequer em que não aplaudissem a minha interpretação. Faço de tudo para me enturmar e conquistá-los.

Boas experiências

Por isso, depois de cerca de cinco décadas ministrando aulas, nossos alunos universitários comentam como nossa convivência é leve, descontraída e prazerosa. Muitos deles não sabem que são eles mesmos que me ajudam nesse processo, trazendo para o curso essa realidade que vivenciam no dia a dia.

Outra experiência engrandecedora foi ter participado como membro do Conselho de professores do IBMEC. Tínhamos de imaginar o que o mercado exigiria dos profissionais no futuro e prepará-los para esses desafios que ainda iriam surgir. Embora desenvolvesse o processo, era, ao mesmo tempo, aprendiz dele.

Um político importante

Lembro-me de quando atendi o senador Garibaldi Alves Filho. Ele foi deputado estadual, senador, presidente do Senado, ministro da Previdência e governador do Rio Grande do Norte. Ocupou, portanto, os cargos políticos mais relevantes do país.

Durante a nossa primeira conversa, perguntei o motivo de ter me procurado para fazer o curso de oratória. Ele me disse que já havia vencido as disputas eleitorais mais concorridas em seu estado. Garantiu que era muito conhecido e admirado por suas gestões.

Sempre aprendendo

Enfrentava a tribuna até com certa facilidade, mas o problema, me confidenciou, eram os jovens que estavam chegando de todos os estados ao Rio Grande do Norte. Eles não conheciam o seu passado e se comunicavam de forma diferente daquela a que se acostumara. Sentia que, se não atualizasse o seu discurso, corria o risco de perder as próximas eleições.

No meu caso, conto também com a ajuda dos meus quatro filhos. Eles permitiram que eu rapidamente fizesse uso dos avanços da tecnologia. Em pouco tempo, dominava as plataformas utilizadas nos nossos cursos online.

Pode ter sido rápido, mas não foi fácil. Foram longas horas de estudo disciplinado e persistente.

Sem rupturas

Não parei enquanto não me senti confortável. Aprendi tanto que, junto com a minha filha Rachel, escrevi um livro sobre esse tema: “Comunicação a distância – como não fazer”. O leitor, sabendo quais os erros evitar, terá mais facilidade para saber como agir.

Só para dar ideia de como esse assunto foi assimilado, basta dizer que o nosso curso online já conta com mais de dez mil alunos. As mudanças provocadas pelo tempo, especialmente após a pandemia, se integraram sem rupturas ao processo de comunicação.

Por isso, se você ainda não atingiu idade avançada, um dia chegará lá. Tenha a mente arejada para jamais envelhecer. Nunca diga “na minha época”, “no meu tempo”. Faça de cada instante o seu momento de vida. A experiência do passado é ótima para dar segurança e servir de alicerce para todas as atividades, mas pode ser um problema se não se ajustar às transformações dos dias de hoje.

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