Nosso cérebro possui um mecanismo de defesa que nos impede de pensar na morte
Reinaldo Polito Publicado em 05/01/2024, às 11h59
“Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez”. Shakespeare
Desde sempre ouvimos algumas pérolas que foram se perpetuando: “A vida a Deus pertence”, “Ninguém morre na véspera”, “Não morreu porque o dia não chegou”, “Quando chega a hora, não tem jeito”. “Só Deus sabe qual será a hora da morte”. “O destino já está traçado”. Você deve ter ouvido outras máximas que poderiam se juntar a essas.
De acordo com cientistas israelitas, nosso cérebro possui um mecanismo de defesa que nos impede de pensar na morte. Para a nossa mente, é algo que acontece com os outros, mas não para nós mesmos. Como disse Simone de Beauvoir:
“Sou incapaz de conhecer o infinito, mas mesmo assim não aceito o finito. Quero que esta aventura, que é minha vida, continue indefinidamente.”
Uma data aproximada?
Quase todos nós gostaríamos de ter respostas a uma infinidade de perguntas que cercam o nosso futuro. Saber o dia em que vamos morrer, entretanto, não. Viver sem ter a informação de quando será o nosso fim nos dá uma sensação de eternidade, de que não somos finitos.
Surpresa! Hoje já é possível saber com boa dose de certeza quanto tempo iremos viver.
Segundo pesquisa publicada na revista “Nature Computational Science”, com a ajuda da IA (Inteligência Artificial) cientistas dinamarqueses conseguiram prever com 78% de certeza quando uma pessoa iria morrer.
Fatores que encurtam a vida
O estudo foi realizado com uma base ampla de casos. Entre 2008 e 2016 os pesquisadores acompanharam seis milhões de pessoas. Observaram o estilo de vida de cada uma e os cuidados que dispensavam com a saúde. Entre os dados analisados estão a situação financeira, a profissão que abraçaram, suas atividades, onde viviam, se sofreram algum tipo de doença.
Além desses fatores, avaliaram também tudo o que estamos acostumados a ouvir quando fazemos nossas consultas médicas – Que tipo de alimentação tem? Leva vida sedentária ou pratica algum tipo de exercício? Qual a relação de seu peso e altura? Sem contar, obviamente, as questões referentes a hábitos nocivos, que geralmente antecipam o fim, como ser fumante ou viciado em bebidas alcoólicas ou outras substâncias.
Há esperança
A esperança de quem recebe uma informação desse tipo é que os cálculos fornecem respostas equivocadas em 22% dos casos. Mesmo assim, talvez, a pessoa decida por levar uma existência mais saudável, evitando o que faz mal e acrescentando o que pode colaborar para uma vida mais longa.
Antes de perguntar se você gostaria de saber em que data aproximada irá morrer, já vou falar de mim: essa é uma informação que dispenso. Não, não quero saber nem o dia, nem o mês nem o ano. Que venha quando vier. E que me pegue desprevenido. É o que desejo sempre aos meus amigos: que tenham vida longa e morte rápida. De preferência dormindo. Deitou, dormiu e acordou no paraíso, recepcionado pelos anjinhos vestidos de branco.
Uma reflexão sobre o futuro
Esse assunto, desde o princípio, sempre esteve entre as preocupações humanas. Em conferência que realizou em 1913 no Instituto de Música sobre o tema “Como se sonda o futuro”, Medeiros e Albuquerque afirma que não há benefício em se conhecer o futuro. E para ilustrar sua tese, conta uma história bastante curiosa:
“Na Turquia há um livro célebre, que ninguém ousa abrir. Foi Murad V, um sultão que viveu no século XVII, que o leu pela última vez. Esse livro passa por ser profético.
Murad era um homem cruel. Em cinco anos de reinado fez matar 23.000 pessoas! Era bêbado. Era devasso. Um dia, porém, lembrou-se de consultar o Djefr-Kitabi, o livro que ensina a prever o futuro, e pelo que lá aprendeu pôde saber em que data morreria. Desde então a vida lhe fora um horror. O que não tinha podido o remorso das vastas carnificinas que ordenava, pôde a predição sinistra: contava as semanas, os dias, os minutos.
E pela primeira vez esse assassino coroado teve um pensamento de bondade: mandou lacrar o livro profético, para que ninguém mais pudesse consultar!
Se alguém soubesse a ciência exata de sondar o futuro, era o que devia fazer: escondê-la, destruí-la”.
Muito bem, os cientistas já fizeram uso da IA para ter uma noção bastante aproximada de quanto uma pessoa irá viver. Seguindo, entretanto, os conselhos dados por Medeiros e Albuquerque, essa deveria ser a atitude deles daqui para frente: esconder esses estudos em pastas que ninguém possa ter acesso. Acho que todos concordamos que dessa forma a humanidade, na ignorância, viverá muito melhor.
Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de Oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação, Gestão Corporativa e MBA em Gestão de Marketing e Comunicação na ECA-USP. Escreveu 34 livros, com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/
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